Moradores de bairro de lata de Almada criticam realojamento: "Somos pedras no caminho da Câmara"
Moradores de bairro de lata de Almada, que têm de sair até sábado, desconfiam das alternativas.
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O perigo de derrocada de uma vala de drenagem que atravessa o bairro de lata do Segundo Torrão, em Almada, leva a Autarquia a ter de demolir, já a partir deste sábado, 60 casas clandestinas que se encontram por cima da vala. Ontem, técnicos da Autarquia foram à casa dos moradores que ainda não saíram informar que tinham de o fazer a partir de hoje, mas a incerteza sobre o seu destino levou a que muitos desconfiassem que o destino seja mesmo a rua.
Rosa Maria, 51 anos, recebeu a visita dos técnicos e disse depois ao JN que foi informada de que iria ser alojada num hotel com os seus dois filhos e neta de três anos até que fosse encontrada casa pela Autarquia. "Como assim, vou para um hotel e logo se vê? As coisas não são feitas assim, têm de me dizer qual é a nova casa, mas nem eles sabem".
Ao lado, as vizinhas de Rosa, que não quiseram ser identificadas ao JN, referiram que vão para uma nova casa que a Autarquia encontrou.
O problema na vala de drenagem foi identificado em julho de 2020 e a Autarquia iniciou o processo para a construção de novas casas, ao abrigo do PRR.
Em julho, perante a catástrofe iminente e a construção das novas casas ainda não ter arrancado, foi decidido avançar com a medida de realojamento temporário e urgente junto do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU).
No bairro, há já casas demolidas de moradores a quem foram atribuídas novas habitações. Há casos em que foi proposta, através da Segurança Social, a comparticipação de rendas.
Luís Ferreira, 58 anos, tem já os pertences empacotados para sair da casa onde vive há 55 anos. Vai ficar em casa de amigos nos próximos dias. "Disseram-me que pagavam uma renda e uma caução numa casa que encontrasse para morar", afirma ao JN. "Para além de ser pouco, não há casas para arrendar, a Autarquia está a enxotar-nos como pedras no caminho", lamenta.
Os irmãos Sara e Miguel, de 18 e 21 anos, vivem com os pais no bairro. "Foi-nos dada casa na Moita, mas estudamos em Almada, vamos ficar sem forma de ir para a escola", afirmam.
A Autarquia refere que vai continuar a procurar casas para as famílias.