Ao longo de um ano, a autarquia de Setúbal tem procurado habitações no mercado de arrendamento para os moradores no bairro de lata da Quinta da Parvoíce e hoje, quem lá mora espera que até ao verão, saia para nova casa.
Corpo do artigo
Miguel Hebo, 51 anos, reside no bairro ilegal que foi outrora uma fábrica de conservas. A água da chuva que desce da encosta entra em casa do angolano que mostrou a situação precária em que vive.
"Quando chove, tenho que ficar no sofá e a água da chuva traz dejetos e esgoto que alaga toda a casa", mostra o angolano que reside sozinho. O sofá tem a marca da água da chuva desta semana e que levou o morador a abrir um buraco na parede para permitir o escoamento para a rua, na Estrada da Graça.
O perigo na íngreme escarpa onde dezenas de moradores residem em casas precárias levou a autarquia a acionar junto do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) um programa de realojamento urgente com base no perigo de catástrofe com perdas de vidas humanas. Em causa um grande incêndio junto ao bairro que não causou vítimas, mas muito pânico. A longa escarpa era até há três anos composta por hortas, mas deu lugar a habitações precárias, construídas pelos próprios moradores. Em fevereiro do ano passado, a PSP interveio no local a pedido do IHRU para parar as construções.
Miguel Hebo procura sozinho uma casa, mas encontra vários problemas. "Quando digo aos senhorios que têm que entrar em contacto com a câmara para entrarem nesse programa, não querem", lamenta, recusando-se a encontrar justificações para essa recusa.
Ao todo, no ano passado eram 150 famílias a residir neste bairro e a autarquia procurava 73 casas. Hoje, pelas contas feitas ao JN por quem está no bairro, faltam 68 casas por atribuir. As que são atribuídas são entaipadas para evitar novas entradas. Algumas moradoras que se juntam no bairro mostram-se esperançosas e dizem que a autarquia está a fazer um grande esforço para encontrar casas para todos. "Até ao verão saímos daqui", contam.
A autarquia anunciou em junho do ano passado que os 150 moradores iam ser realojados em 73 casas no mercado de arrendamento local e tinha para o efeito verbas do IHRU (dos 39.700 euros por mês disponíveis para as rendas, 37 100 euros são do IHRU). O intuito é que os moradores fiquem nestas casas ao longo de cinco anos para depois serem integrados num programa maior de realojamento que está em marcha em Setúbal, o 1º Direito. O bairro seria depois destruído e no local seriam construídas habitações de renda acessível.