Clientes, empresários e trabalhadores da animação noturna no Porto dizem que reforço da PSP anunciado só se fez sentir nos primeiros tempos. Câmara afirma que o contingente é insuficiente.
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Depois de fechar as portas do bar onde trabalha, na Rua do Conde de Vizela, no Porto, Carla Costa caminha até ao carro com "algum receio e o mais rápido possível". Enquanto atravessa as ruas da movida da Baixa, Carla diz que encontra mais "gente problemática" do que polícias. Em outubro passado, após a denúncia do presidente da Câmara do Porto, sobre o clima de insegurança que se verificava, o Ministério da Administração Interna anunciou um reforço de 50 agentes da PSP unicamente para a zona da movida.
Três meses depois, o balanço está longe de ser positivo. Clientes e empresários dizem que só no início é que a polícia foi mais visível e a Câmara do Porto "considera que o reforço do contingente policial é insuficiente".
Por seu turno, a PSP avançou que, "desde a implementação das equipas, foram realizadas 231 ações de policiamento", registando-se 138 ocorrências e 38 detenções, assim como a apreensão de estupefacientes e de armas proibidas.
Zaragatas
Tornou-se um hábito para quem passa na movida assistir a "muitas zaragatas, agravadas por causa do álcool", refere Carla Costa. Da mesma forma, estas situações são sempre acompanhadas pela mesma pergunta: "onde é que estão os polícias?", referiu.
"Ultimamente, veem-se mais ao final da noite, a partir da uma da manhã. E também mais ao fim de semana", relata Carla Costa.
"Persistem as intimidações, as agressões e os problemas de vandalismo. A supervisão não está a impactar as pessoas, que continuam a sentir-se desprotegidas", sublinhou António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto. "Depois dos estabelecimentos fecharem, a polícia tem de continuar a ser visível", alerta o dirigente, relembrando o caso recente de um proprietário que, pelas cinco horas, quase foi roubado por um grupo.
Perseguições
A falta de policiamento não é sentida apenas pelos trabalhadores. O brasileiro Beto Guimarães costuma frequentar os bares da zona da movida. "O nível de segurança peca um pouco, até porque nem vemos nenhum polícia nas ruas", relatou. O que surpreende o cliente é que, mesmo aos fins de semana, não vê muitos agentes da PSP: "É ao final da noite, quando saímos do recinto, que sentimos a falta de segurança. Às vezes, há pessoas a perseguirem-nos", refere o brasileiro.
Segurança num dos estabelecimentos da movida, Ângelo Girão afirma que a "clientela que passa por ali já não é a mesma". "São mais jovens e mais ariscos. Só na passagem do ano prenderam dois rapazes com seis telemóveis. Ainda nem era meia-noite", contou.
Na memória está ainda o projeto de policiamento pago que chegou a existir. "Os espaços pagavam a seis polícias para estarem aqui sempre a circular, e assim havia uma intervenção mais rápida", recordou Natacha Freitas, segurança.
Foram dois anos em que a PSP patrulhava a área com serviço gratificado. O projeto foi interrompido, apesar das "casas se manterem dispostas a pagar este policiamento", acrescentou.
O presidente da Associação dos Bares e Discotecas da movida do Porto, Miguel Camões, admitiu já ter contactado o Ministério de Administração Interna, mas "a resposta é negativa".
Seguranças
Quando há desacatos e problemas na via pública, muitas vezes têm de ser os seguranças dos bares a intervir. "Nós somos contratados para trabalhar dentro das casas", observa Ângelo Girão, referindo que "os seguranças são os principais interessados em ter a polícia ali".
Apesar de tudo, na Rua da Galeria de Paris, ainda há quem tenha opinião positiva. O dono do Fabrik Bar, Tiago Dias, sente que a confusão diminuiu depois do reforço da vigilância, salientando a sua importância para os clientes. "A presença destas equipas inibe os assaltos e os conflitos, aumentando o sentimento de segurança por parte de quem frequenta os bares", afirma.
O facto de ter sido anunciado o reforço de policiamento para a movida, tem levado a que os problemas se transfiram para outras zonas da cidade onde há bares e discotecas, assinalou António Fonseca, referindo que "estas ocorrências estão a ser desviadas, e não resolvidas".