"Às vezes tenho umas dores, tipo choques, no braço, mas nunca pensei que eram derivadas de uma bala que tinha lá alojada".
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Diamantina Pereira, a idosa de 72 anos, de Vila Verde, que foi atacada por um conjunto de cães vadios no final do ano e fraturou o braço esquerdo, nem quis acreditar no que os médicos do Hospital de Braga lhe mostraram nos raios-X que efetuou após o incidente: passados 24 anos de ter sido alvo de uma tentativa de homicídio, pelo ex-marido, descobriu que aquele braço ainda alberga uma das três balas com que foi atingida.
"Na altura, duas balas entraram e saíram do corpo. Sempre pensámos que a terceira tinha saído também. Só agora, devido a este ataque dos cães que lhe fraturou o mesmo braço, é que descobrimos que mantém lá uma bala alojada", explica o filho, Vítor Ferreira, surpreendido por a família nunca ter sido informada da situação pelos médicos dos hospitais por onde passou.
Segundo Diamantina, poderá ter havido algum "desleixo" dos profissionais de saúde, dado que, no dia da tentativa de homicídio, deu entrada no Hospital de S. Marcos (antigo hospital de Braga) "em coma". Ainda assim, acrescenta, "é surpreendente" como passou por cinco unidades (hospital de Braga, de Vila Verde, da Prelada e Santo António, no Porto, e dos Capuchos, em Lisboa), nesse período de recuperação, e o objeto não foi avistado.
"Ninguém detetou a bala ou, então, não quiseram tirar e ninguém nos informou", afirma Vítor Ferreira, acreditando que a deficiência que a mãe tem na mão e em parte do braço, e que a deixou sem agilidade, podia ter sido evitada. "Ficámos a pensar se ela estaria bem, caso a bala tivesse sido retirada", sublinha o filho, que não descarta a hipótese de vir a apurar os responsáveis.
Por enquanto, Diamantina só deseja curar a fratura no braço para, posteriormente, poder retirar a bala e apagar definitivamente o episódio de violência doméstica da memória. "Eu já pedi ao doutor para tirar isto. Pior já não posso ficar", lamenta a idosa, ao mesmo tempo que confidencia que sempre se questionou com o facto de ter ficado "apenas com uma marca de entrada da bala na mão, mas não ter nenhuma marca de onde teria saído".