Em dois anos, foram levantados 40 autos por estacionamento durante as missas na Sé de Braga. Diocese tem parque ao lado, mas diz que é "inviável".
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Um conjunto de multas de estacionamento aos fiéis que deixaram o carro nas ruas pedonais à porta da Sé de Braga, durante uma missa dominical, no último mês, reacendeu o conflito entre a Igreja e a Câmara de Braga, com o deão da catedral, José Paulo Abreu, a acusar a Polícia Municipal de "perseguição". Agora, os responsáveis políticos rejeitam as acusações, com os dados das autoridades. Em dois anos, das 165 coimas passadas nas ruas D. Paio Mendes e D. Gonçalo Pereira, só 40 disseram respeito ao período de cerimónias na catedral, ou seja, menos de duas por mês em média.
"Não podem dizer que atuação da Polícia Municipal não é pedagógica. Houve uma fase transitória em que, em vez do papel de contraordenação, deixávamos um papel a dizer que não era permitido estacionar", adianta a vereadora Olga Pereira, reafirmando a intenção de manter o aparcamento proibido nas ruas pedonais nas imediações da Sé, continuando apenas a vigorar um regime de exceção para o largo do Rossio, aberto durante as cerimónias.
De acordo com os dados cedidos ao JN, em 2020, ano em que arrancou o novo turno da Polícia Municipal e permitiu fiscalizações ao fim de semana, as autoridades registaram 65 autos de contraordenação nas ruas D. Paio Mendes e D. Gonçalo Pereira. No último ano, foram 100 coimas. Mas do conjunto, apenas cerca de um quarto, "40 autos", esteve relacionado com estacionamento abusivo de fiéis da Sé de Braga, garante Olga Pereira.
Parque a 200 metros
"A diocese tem um parque de estacionamento a menos de 200 metros, que pode disponibilizar aos fiéis, se assim o entender. Não faz sentido estimular o estacionamento em zonas pedonais, quando há um parque com centenas de lugares que pode ser disponibilizado pela própria arquidiocese, o parque de Santiago", atira o presidente da Câmara, Ricardo Rio.
Uma solução "inviável", na opinião do cónego José Paulo Abreu. O deão da catedral diz que o parque de estacionamento em causa pertence ao Seminário Maior e Museu Pio XII e a abertura aos fiéis obrigaria à presença de um funcionário para controlo. "Estamos a complicar o que é simples. A quem é que estorvam os carros naquelas ruas? Quem vai estacionar à Sé e não encontra espaço no Rossio, tem que procurar outro sítio. E quanto tempo demora a estacionar e a voltar à Sé? Já chega à missa 20 minutos depois", refere o cónego, em tom de indignação.
O mesmo tom dos fiéis que frequentam a catedral. "Assistimos à última invasão da Polícia Municipal e concordamos com o cónego. Devia haver tolerância", afirma Maria Branco. "Se os bares estão fechados na hora da missa, porque não deixam entrar os carros? Não há muito estacionamento à volta", lamenta Fátima Ribeiro. Carlos Vilar, outro frequentador da Sé, diz que "quase apanhou uma multa". "Avisou-me o sacristão", recorda.
Sobre as críticas, Olga Pereira responde com o Código da Estrada: "Existe para cumprir e não é revogável com nenhum protocolo. Portanto, não é uma questão de tolerância, é uma questão de fiscalização".
CONTEXTO
Contraordenações de 30 euros
O valor de uma multa para quem estaciona nas ruas pedonais do centro histórico de Braga é de 30 euros. O acordo entre a Câmara de Braga e o Cabido da Sé permite aparcamento no Rossio da Sé durante missas e cerimónias.
Controlo do pilarete por telemóvel
O Cabido da Sé tem acesso ao número de telemóvel para desbloquear o pilarete nas ruas pedonais. Se infrações continuarem, a Câmara pondera passar a controlar o sistema, sempre que o Rossio da Sé fica lotado com carros.