Autarcas do distrito de Bragança não se entendem sobre necessidade de dois novos equipamentos em Mogadouro e Miranda do Douro. Criadores confirmam escassez.
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Autarcas de quatro municípios com matadouros, no distrito de Bragança, não se entendem sobre a necessidade de se construírem mais duas novas unidade de abate. Em causa estão dificuldades de sobrevivência das unidades face à redução do número de animais para abate, que já está a afetar os equipamentos em funcionamento, situação confirmada pelos criadores.
Estão previstas duas novas unidades de abate: a do Planalto Mirandês, a construir em Sendim, em Miranda do Douro, e que vai substituir a atual localizada na cidade, e outra em Mogadouro. "A distribuição dos abates deverá ser ainda maior", estimou o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, sublinhando que se trata da lei da oferta e da procura. "Se houver mais matadouros, tendencialmente enfraquecem os que já existem, numa altura em que o número de animais está em decréscimo".
Os matadouros atuais são da responsabilidade dos municípios, nomeadamente Bragança, Cachão (Mirandela e Vila Flor), Planalto Mirandês (Miranda do Douro) e Vinhais. Todos estão abaixo da capacidade instalada e dão prejuízo.
O Matadouro Industrial do Cachão tem uma capacidade de abate diário de 180 bovinos, 90 suínos, 800 pequenos ruminantes e 800 leitões, mas apenas abate 120 bovinos, 25 suínos, 200 pequenos ruminantes e 50 leitões. Vinhais labora com metade da capacidade.
Hernâni Dias acrescentou que "a construção de mais matadouros será um desperdício de recursos e não ajudará as unidades existentes".
Júlia Rodrigues, autarca de Mirandela, destaca que o equipamento do Cachão está "muito aquém da capacidade" e só vê como possibilidade o reforço da qualidade. "Para sermos competitivos", afirmou. Júlia Rodrigues salienta "que é preciso ponderar os investimentos em termos supramunicipais".
O presidente da Câmara de Vinhais, Luís Fernandes, admite que o matadouro do concelho "pode diminuir a laboração, por não haver animais suficientes e porque o consumo de carne está a baixar".
A unidade de Vinhais tem a especificidade de estar vocacionada para o porco de raça bísara, porque abate segundo as normas para o fumeiro certificado e "isso atrai produtores de outros concelhos", garantiu. O autarca pede apoios do Governo para encontrar novos usos. "Para servir para a cura de presunto e construir uma sala de desmancha", explicou.
Quem defende
A Câmara de Mogadouro está já em fase de adjudicação de um matadouro, com valor superior a dois milhões de euros. "Preenche uma lacuna nesta zona, porque há quatro concelhos sem matadouro e o nosso já terá uma sala de desmancha, coisa que nenhum do distrito tem", garantiu o presidente da Câmara, António Pimentel.
Vítor Bernardo, vereador da Câmara de Miranda do Douro, disse que "é facto público a existência de um acordo entre os três municípios do Planalto (Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso), para a construção de um equipamento no concelho mirandês, com acerto de participações financeiras das câmaras. O autarca frisa que esse acordo envolvia Mogadouro. "Não foi o nosso Município que quebrou o acordo, porque os acordos não são só escritos também existe a palavra dada", afiança.
O setor pecuário confirma que o efetivo de animais está a diminuir. "Face ao aumento dos custos é normal que os produtores reduzam o efetivo. As ajudas são poucas", referiu Valter Raposo, secretário técnico da Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa. Esta raça abate cerca de três mil cabeças por ano nos matadouros de Bragança, Vinhais e Miranda do Douro. "Uns 50 vitelos por semana", acrescentou.
A Associação de Criadores de Cabras de Raça Serrana tem um efetivo de 15 mil animais. "Em 2021 abatemos 2600 cabritos aqui da região. O que é pouco", referiu António Neves, o presidente.
Prejuízos de mais de 100 mil euros por ano
No Cachão, que serve Mirandela e Vila Flor, os prejuízos são da ordem dos 100 mil euros por ano. O matadouro esteve, porém, dois anos em obras. O contrato-programa de cobertura de prejuízos da unidade de Vinhais é de 120 mil euros. Em Bragança o matadouro apurou mais de 218 mil euros em 2019, mas com a pandemia o valor caiu a pique: menos 107 mil euros em 2020 e menos 109 mil euros em 2021. Em Miranda do Douro em 2019 a receita ultrapassou os 248 mil euros, mas em 2020 baixou 73 mil euros e 120 mil o ano passado.
Números
1210 animais abatidos em Vinhais em 2021 revelam uma queda a pique se compararmos os números de 2019 (6056) e de 2020 (5638).
4673 abates a mais no matadouro de Vinhais em 2021 traduzem uma subida relativamente a 2019 (3082 abates) e em 2020 (4230).
4963 animais a menos no abate na unidade em Bragança. Entre 2019 e 2020 o matadouro abateu menos 2476 animais.