Junta quer tornar espaço "autossustentável". Fim da reabilitação coincidirá com abertura do Parque Urbano.
Corpo do artigo
Emília Correia, 83 anos, e Erminda Nogueira, 87, deixaram de trabalhar nas minas de S. Pedro da Cova, em Gondomar, antes de estas fecharem, em 1970. Depois disso, Emília foi empregada doméstica e Erminda padeira. Mas a memória dos tempos em que chegaram a ser colegas, acartando lama "com a giga à cabeça", ainda está bem viva.
Também o Museu Mineiro está prestes a reabrir portas, dando ao visitante a possibilidade de "descer" a uma mina e até empurrar uma berlina (vagoneta), que cheia chegava a pesar 700 quilogramas e era empurrada à força de braços.
Sofia Martins, presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro da Cova, contou ao JN que chegada à autarquia lançou ao Município "o desafio de colocar o Museu Mineiro noutra dimensão, tornando-o mais apelativo e interativo, de forma a que se torne autossustentável".
Para isso, "as entradas passarão a ser pagas, ainda que com um valor simbólico, mantendo-se gratuitas para a população local", explicou a autarca. Os lucros serão para utilizar na conservação do museu e da zorra, "estacionada" à porta do espaço.
Para o arranque das obras, em abril, Sofia contou com a ajuda da Liga de Amigos do Museu Mineiro, ouvida como "conselheira", e com o "apoio financeiro" da Câmara de Gondomar (só para a pintura exterior do edifício que no passado serviu como escritórios da Companhia das Minas de Carvão foram gastos cerca de 30 mil euros).
Zona envolvente
A requalificação do espaço incluirá a reabilitação da área envolvente, nomeadamente o "Tanque das Três Pernas", que passará a ter uma escadaria, e onde nascerá também um anfiteatro ao ar livre naquele que será o Parque Urbano de S. Pedro da Cova.
Quando a intervenção ficar pronta - "o que deve acontecer em breve", garantiu a presidente de Junta - um dos pontos altos será "a descida à mina, que acontecerá com a ajuda de dois ecrãs digitais, que passarão imagens e sons específicos, de modo a tornar a experiência o mais realista possível", contou ao JN Micaela Santos, curadora do museu.
No espaço será também recriada "a antiga Casa de Malta, que albergava trabalhadores de concelhos vizinhos", referiu, sublinhando: "Recriar in loco esta atividade faz parte da memória da freguesia".
Micaela Santos destaca ainda que "vai ser digitalizado o arquivo com mais de 3500 fotografias" de funcionários que trabalharam nos 170 anos que durou a mina, podendo os familiares "enviar conteúdos". Desse arquivo fazem parte as "fichas de cadastro" de Emília e Erminda.
"Trabalhei junto ao poço 25 a acartar lama à cabeça. Cheguei também a partir carvão, com a ajuda de um martelo, de joelhos no chão com farrapos velhos por baixo. Entrei com 14 anos e fui ganhar sete escudos por dia", relata Erminda, apontando para "as marquinhas" pretas de carvão que tem nos dedos das mãos ainda debaixo da pele.
Também Emília lembrou o "trabalho difícil e pesado, sobretudo com a chuva e o vento a baterem de frente", mas do qual sente "saudades". "Éramos raparigas novas e o ambiente era alegre", resumiu.
Curiosidades
Evento solidário
No dia 9 de outubro, às 9 horas, realiza-se a Rota da Zorra, que inclui uma prova de BTT (oito euros) e caminhada (cinco euros), com início e fim à porta do Museu Mineiro, em S. Pedro da Cova. O dinheiro angariado será para conservação da zorra. As inscrições devem ser feitas em www.lammspc.org.
Cavalete reabilitado
Também o Cavalete do Poço de S. Vicente, estrutura que puxava o carvão das galerias e, por isso, símbolo da comunidade mineira está a ser reabilitado desde março. No final da obra, a torre ficará tecnicamente visitável até ao topo, a mais de 38 metros de altura. O equipamento é património de interesse público.