Câmara de Santa Comba Dão (PS) inaugura em maio o Centro Interpretativo do Estado Novo. Executivo afasta-se e alerta para os riscos.
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O Centro Interpretativo do Estado Novo, na freguesia do Vimieiro, Santa Comba Dão, terra natal de Salazar, vai abrir ao público em maio. O anúncio foi feito pelo presidente da Câmara, Leonel Gouveia, numa altura em que está quase concluída a primeira de quatro fases de um projeto que, para o Governo, tem "riscos".
"Num dia de maio, irá abrir a fase um do centro interpretativo. Vamos dar a conhecer alguns aspetos que foram momentos marcantes do Estado Novo", explica o autarca. O espaço vai nascer na Escola Cantina Salazar, mandada construir pelo ditador e inaugurada em 1940, e que mantém o mobiliário da época.
Na altura da abertura, explica o autarca, será feita uma "auscultação" a todos os visitantes e santa-combenses e que o projeto será "moldado" mediante essas opiniões e contributos. "As pessoas que visitarem o centro interpretativo vão poder ter contacto com aquilo que era uma sala de aulas do tempo do Estado Novo. Simultaneamente, vão poder apreciar aquele que é o projeto que temos em mente para ter concluído daí a quatro anos e contribuir com as suas opiniões."
Segundo Leonel Gouveia, o projeto já estava em marcha quando a equipa do Centro de Estudos Interdisciplinares do séc. XX da Universidade de Coimbra foi contratualizada no âmbito do projeto Rota das Figuras Históricas da Associação de Desenvolvimento Local (ADICES). Com o abandono do apoio científico e o insucesso da candidatura da ADICES, a Câmara procura agora uma nova equipa científica. "Alguns investigadores a título individual já deram alguns contributos", avança o autarca.
Ministério tem outro plano
O Ministério da Cultura distancia-se do projeto, que desconhece, e defende que "com a criação de um espaço-memória na aldeia natal do ditador corre-se o risco de estar a promover um destino de peregrinação e de culto de personalidade". O gabinete de Pedro Adão e Silva lembra, ainda, que a memória histórica do passado autoritário "será preservada no Museu Nacional Resistência e Liberdade, a instalar na Fortaleza de Peniche no quadro das celebrações dos 50 anos da democracia".
"Atrativo", diz autarca
"A história não se apaga e o presente e futuro fazem-se com o conhecimento do passado", defende o presidente da Câmara, que rejeita o título "Museu Salazar". "Não se trata de nenhum santuário", reitera. Para Leonel Gouveia, este será mais um atrativo para que as pessoas visitem Santa Comba Dão, "não com saudosismo, mas para conhecer a história de Portugal". O edil socialista acrescenta que terá "todo o gosto" em dar a conhecer o projeto ao ministro da Cultura e lança o repto: "É bom que o Ministério contribua financeiramente para a sua concretização. Até hoje isso não aconteceu".
Processo
Pedro Adão e Silva assinou petição contra
Depois de ter sido anunciado pela Câmara de Santa Comba Dão em 2018, o projeto recebeu um voto de condenação pelo Parlamento. À Assembleia da República chegou uma petição contra o projeto que reuniu mais de 18 mil assinaturas. Um dos signatários foi o atual ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
Antifascistas acusam autarca de teimosia
A União de Resistentes Antifascistas Portugueses fala num ato de "teimosia" do presidente da Câmara e lembra que os "historiadores acabaram por desistir do projeto". "Num país que sofreu tanto com o fascismo, como é que é possível continuar com essa teimosia, numa terra de gente humilde", questiona o coordenador José Pedro Soares, ex-preso político.
Procura-se financiamento
O projeto do Centro Interpretativo do Estado Novo está pensado para quatro anos e em maio só estará concluída a primeira de quatro fases que contou com 25% de financiamento do projeto "Renovação de Aldeias", do Programa de Desenvolvimento Rural.
Custo
200 mil euros
foi quanto custou aos cofres da Autarquia de Santa Comba Dão a primeira fase de construção do Centro Interpretativo do Estado Novo.