Na Amadora, Rui Tavares recordou jogos de infância e criticou quem quer "erradicar" Cova da Moura

Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
O porta-voz do Livre defendeu, este domingo, na Amadora, que quem propõe "erradicar" a Cova da Moura devia aprender com as pessoas que vivem no bairro, numa ação de campanha na qual ouviu apelos de ajuda e alguma revolta.
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Depois de uma manhã de campanha autárquica em Cascais, Rui Tavares deslocou-se até ao centro da cidade da Amadora, também no distrito de Lisboa, e um dos alvos foi a candidata apoiada pelo PSD, Suzana Garcia, que quer erradicar todas as barracas do concelho até 2030, incluindo as construções do bairro da Cova da Moura.
"O que as pessoas deveriam fazer era falar com os habitantes da Cova da Moura e aprenderem o exemplo de como é que dali se conseguiu fazer escolas, fazer festivais, fazer cultura, [...] e replicar noutros bairros que ainda estão mais enclausurados do que a Cova da Moura e que precisam de ajuda", contrapôs Rui Tavares.
O deputado confessou que o tema é-lhe particularmente pessoal uma vez que aprendeu crioulo na Ilha do Fogo, em Cabo Verde, e deu mais tarde aulas naquele bairro.
Rui Tavares lamentou que o bairro seja "tão ofendido, tão insultado, tão caricaturado" e certas pessoas queiram "apresentar a Cova da Moura como um exemplo do mal que há no país e, por isso, depois dizem que a querem erradicar".
"Deveriam ir à Cova da Moura aprender, o exemplo do bom que lá se faz, de um bairro que não tinha infraestruturas, que não tinha ajudas, que não tinha apoios e onde as pessoas souberam fazer um bairro, que tem problemas como todos os bairros, que tem dificuldades como todos os bairros", sublinhou.
Ao seu lado, Hugo Lourenço, candidato do Livre à Câmara da Amadora, defendeu uma "democracia mais participativa", com assembleias de cidadãos em bairros como o da Cova da Moura para ouvir os habitantes, e a promoção de mais eventos "culturais, abertos a toda a população".
Durante cerca de uma hora, Tavares percorreu algumas das principais ruas do centro da Amadora, junto à estação dos comboios, com uma pequena comitiva que rondava a dezena de apoiantes, de bandeiras na mão.
Perto do centro comercial Babilónia, enquanto caminhava, Tavares ia assobiando uma música e recordando os tempos em que visitava o primo que vivia na Amadora.
"Vinha para aqui com ele, depois íamos correr até Queluz, íamos aos jogos no antigo estádio da Luz... E havia um jogo [de consola], mas a música nunca mais me saiu da cabeça", confessou, antes de voltar a assobiar a música do jogo "Match Day", popular na década de oitenta e que se jogava numa antiga ZX Spectrum.
Durante a ação, várias pessoas manifestaram-se preocupadas com a falta de casas e perguntaram a Tavares se ia "haver casa para todos".
Principelina Perrulas, 90 anos feitos no sábado, sem casa e sentada num banco, foi uma das que deixou esse apelo ao líder do Livre. "Estou sempre aqui", disse a Rui Tavares, que quis ver o seu cartão de cidadão no qual se lia a data de nascimento: 27 de setembro de 1935.
O líder do Livre quis ficar com o número de Principelina e prometeu fazer o possível para a ajudar, seguindo caminho.
Mais à frente, junto a umas mesas onde vários idosos se juntavam a jogar às cartas, Tavares encontrou os ânimos mais exaltados.
"Vá trabalhar!", disse-lhe um dos senhores, que foi abordado pela comitiva.
"Os velhos que estão aqui é que trabalharam uma vida inteira e andam vocês a comer o dinheiro", disse, revoltado.
Rui Tavares disponibilizou-se para ouvir o senhor, que se queixou de os políticos apenas aparecerem em época eleitoral e de "ninguém querer trabalhar". Após algumas tentativas de abordagem, sem sucesso, a comitiva prosseguiu, deixando alguns panfletos na mesa do jogo.
Em declarações aos jornalistas, Rui Tavares definiu a Amadora como "uma cidade de Abril, que festejava o 25 de Abril com as suas corridas da liberdade e que tinha os seus murais evocativos do 25 de Abril, e com eles acolhia gente que vinha de tanto lado, do Alentejo, da Beira, do Ribatejo".
"O que é preciso é, no fundo, reencontrar essas raízes, essa história da Amadora e atualizá-la para o século XXI. Para isso é preciso uma esquerda nova, que o Livre representa, uma esquerda que é progressista, ecológica, humanista, que entende que é da diversidade que nós somos mais fortes se for uma diversidade com união, respeito, entreajuda, com solidariedade", apelou.
