Território Educativo de Intervenção Prioritária há 26 anos, agrupamento de Leiria cultiva a proximidade para integrar alunos.
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Na EB 2,3 dos Marrazes, escola sede do Agrupamento de Escolas de Leiria, há uma turma com alunos russos e ucranianos que convivem pacificamente, apesar de os dois países se encontrarem em guerra desde o ano passado. O diretor Jorge Brites garante, ao JN, que nunca houve qualquer incidente entre os estudantes, nem entre as famílias, até porque a família russa condena a invasão da Ucrânia.
Num universo de 583 alunos filhos de pais estrangeiros, o Brasil é o país com mais representatividade (323), seguido da Ucrânia (75), Angola (30) e Marrocos (28). Num passado recente, as crianças destas duas nações africanas predominavam nas 24 escolas do agrupamento, até se ter verificado a entrada em Portugal de um grande fluxo de brasileiros e de ucranianos.
Habituados a lidar com estudantes de diversas nacionalidades, os professores contam com o apoio da comunidade para facilitar a integração, sobretudo no caso de alunos ucranianos que não sabem português.
"Capitalizámos o conhecimento que tínhamos dos encarregados de educação que já frequentavam o agrupamento", conta Jorge Brites. "Socorremo-nos deles para servirem de mediadores no contacto com as novas famílias, pois muitas nem sequer inglês falam".
Perfis diferentes
O diretor do Agrupamento de Escolas dos Marrazes não esconde, porém, que o perfil dos refugiados ucranianos é diferente dos que imigraram para Portugal há cerca de 20 anos.
"As pessoas têm a expectativa de regressar à Ucrânia o quanto antes, o que gera algum desinvestimento dos nossos alunos", explica o responsável. Na tentativa de que se sintam bem na escola, houve a preocupação de colocá-los em turmas onde existem outras crianças ucranianas, para os ajudarem e para tranquilizar as famílias.
Jorge Brites tem consciência de que o "revés da medalha" dessa estratégia é privilegiarem o contacto informal em ucraniano. No entanto, estão a ter aulas de apoio a Português Língua Não Materna (PLNM), com quatro docentes especializados. A maioria dos alunos frequenta o nível de iniciação (A1) e está no 1.º Ciclo.
"Os professores têm feito um trabalho excelente, pelo que temos progressos significativos", garante Jorge Brites. À exceção dos alunos que consideram estar de passagem por Portugal.Com uma cultura de integração "entranhada", o Agrupamento de Escolas dos Marrazes conta, ainda, com o apoio de uma mediadora cultural, há dez anos, e com um artista residente, já que acreditam que a arte é uma linguagem universal e capaz de aproximar os povos. Os estabelecimentos dispõem, ainda, de uma assistente social para acompanhar as famílias que se encontram numa "situação económica e social de grande fragilidade", tal como a maioria das famílias locais, o que Jorge Brites também considera um fator de integração.