Raul Joaquim tem passado os dias a tentar pescar lampreia na ria de Aveiro, na zona da Murtosa. Começou em janeiro e, apesar de ter tido muitos lanços que não deram nada, também soma alguns sucessos.
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Este ano, "apanha-se menos, mas as que aparecem são grandíssimas", revela este pescador da Murtosa, que há mais de duas décadas se dedica à lampreia. A contribuir para isso, acredita, poderá estar o tempo, já que "a água está muito fria e há muita água doce" por ter chovido com abundância.
A apanha sempre foi incerta. "Há marés em que se vai e não se apanha nenhuma. E na seguinte apanham-se várias", continua Raul Joaquim. Foi o que lhe sucedeu há dias. Já tinha "dado quatro lanços" sem nada e estava "prestes a desistir". Decidiu dar mais um e, nesse, apanhou "uma com mais de dois quilos, fora de série, e outras duas também grandes, mas não tanto". Ainda deu mais dois lanços, a ver se a sorte continuava, mas "nada".
O que não tem faltado são telefonemas a pedir produto. Alguns dos que chegam a Raul Joaquim são até "de malta de Penacova", pois "não tem havido muito e andam a ver se arranjam. Não chega para todos". Ele próprio é apreciador, mas, dado o preço, prefere vender a iguaria a saboreá-la. "O desejo vai-se aguentando", atira o pescador da Murtosa.
Choco para compensar
Humberto Neto, pescador que costuma apanhar lampreia em São Jacinto, Aveiro, também diz que passa muito tempo para conseguir alguns exemplares. "Ando a trabalhar desde janeiro e ainda nem dez lampreias apanhei. Esta semana, consegui uma e tenho ido tentar todos os dias." Na sua voz há desânimo. "Este ano, pensava que ia ser bom, mas está muito fraco. As que aparecem são jeitosas, mas são poucas", lamenta Humberto. "Pode ser que ainda apareçam, mas as águas andam frias e também choveu muito no início", desabafa, explicando que muitas vezes o esforço não compensa, pois "nem dá para o combustível".
Até abril, os pescadores podem continuar a tentar e a expectativa é que melhore. Mas, entretanto, para ganhar a vida, Humberto Neto, à semelhança de outros colegas, vai-se dedicando também ao choco.
Este ano, retoma Raul Joaquim, a lampreia está a ser paga aos pescadores a "60, 70 euros" cada unidade. No ano passado, a venda da lampreia "começou pelos 50 euros e foi descendo até aos 30, 35 euros".