"Se estão a pensar desenvolver a vossa cidade pelo turismo, tenham cuidado, guardem para investir na população. Caso contrário, ela irá virar-se contra o turismo". As palavras são de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, no Fórum Urbano Mundial, que está a decorrer no Egito.
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O autarca participou na manhã desta quarta-feira no painel que se debruçou sobre o tema "Aprendizagens do passado e do futuro: políticas e governação para o avanço do turismo urbano sustentável". Na sua intervenção, Rui Moreira sublinhou que o equilíbrio desejado exige uma atuação concertada, na "garantia de que as receitas turísticas ajudam a reduzir a pegada", canalizando-as, entre outras áreas, para a gestão do lixo e do trânsito, mas também na "diminuição do impacto do turismo nos moradores providenciando habitação acessível".
"O turismo traz consigo atividades e negócios que acabam por tornar a cidade mais cara", afirmou Moreira, salvaguardando: "Não estamos a enfrentar turismo em demasia, apenas temos que gerir uma atividade que, até agora, deixámos livre". O autarca, citado em comunicado da autarquia, exemplificou com o caso do Porto, que restringiu o acesso de veículos turísticos ao centro da cidade, instituiu um regulamento para os artistas de rua e criou mecanismos de apoio às lojas tradicionais. "Os turistas também não querem ir a uma cidade para ver turistas, queremos ver como é a vida da cidade, os habitantes, a gastronomia", frisou. "Não podemos ter uma cidade que seja uma Disneylândia, não é o turismo que queremos", acrescentou.
"Vimos que o impacto do turismo foi muito importante para a reabilitação urbana da cidade", assinalou ainda, dando nota do investimento privado que vem do exterior. "Os estrangeiros investem no Porto porque veem que a cidade tem incorporado boas práticas em matéria de património, gestão de resíduos, espaços verdes, manutenção do edificado", observou. Rui Moreira assinalou a necessidade de "mais capacidade legal para as cidades implementarem certas medidas", como "um sistema rápido de taxação" de imóveis degradados. "Se alguém quer ter uma casa degradada numa cidade reabilitada tem que pagar por isso", defendeu. "Precisamos de medidas nacionais que nos permitam, por exemplo, taxar os restaurantes ao nível da quantidade de resíduos que produzem", assinalou. O presidente da Câmara do Porto considerou que, neste contexto, é preciso que os governos passem o poder para as autarquias locais. "Portugal é extremamente centralizado. Para que as cidades possam fazer a diferença, precisamos de capacidade política", criticou.