Foram instaladas nas 118 salas do pré-escolar do concelho de Barcelos as “Cozinhas de Lama”, infraestruturas que permitem às crianças, dos três aos cinco anos, brincar com elementos da natureza. A iniciativa da Câmara Municipal beneficia cerca de 2200 alunos, num investimento de cerca de 4700 euros.
Corpo do artigo
“Parecem bandos de pardais à solta, os putos, os putos”. A música de Carlos do Carmo assenta como uma luva no cenário que a reportagem do JN encontrou no Jardim de Infância de Vila Boa, em Barcelos. Dezenas de crianças com galochas nos pés brincavam na terra, com água, com lama, com folhas, e, até, com minhocas, explorando todas as potencialidades das “Cozinhas de Lama”.
Mas afinal, o que são estas cozinhas? “É um espaço onde utilizamos todos os elementos naturais que temos à mão. As crianças brincam ao 'faz de conta' com areia, terra, paus, pedras, erva, água, lama, etc, ao contrário do plástico existente no interior das salas”, explicou ao JN Anabela Sequeira, educadora de infância.
“É importante que as crianças conheçam a natureza e tudo o que ela implica”, acrescentou Sandra Carmo, coordenadora do Jardim de Infância de Vila Boa.
“Criar defesas”
O investimento feito pela autarquia barcelense “insere-se na estratégia de promoção de ações que favoreçam o desenvolvimento infantil em contextos educativos diversificados, nomeadamente através da realização de atividades ao ar livre”. Esta diversidade é apontada por Anabela Sequeira como fundamental para o desenvolvimento das crianças.
“Dentro de uma sala de aula eles também brincam, mas é tudo de plástico e as crianças estão confinadas a um pequeno espaço. No exterior, podemos simular vários cenários que os ajudam a aumentar os níveis de motricidade e a criar defesas no corpo”, salientou a educadora, antes de completar: “Há crianças que, quando chegaram cá, tinham medo de mexer em certos materiais, que tinham medo de se sujar, de tocar nas coisas desconhecidas. Eles foram vendo os pares a fazer, a mexer, e foram, paulatinamente, entrando na brincadeira e perceber que não há qualquer problema.”
Os pais viram com bons olhos esta iniciativa e até ajudaram a montar a cozinha. “Os pais, por muito que os miúdos cheguem a casa sujos, entendem que o mais importante é eles irem felizes com esta experiência”, referiu Sandra Carmo. “Eles percebem a importância e no meu grupo só tenho elogios. Os pais reagiram muito bem, dizem que os filhos vão felizes para casa e não se interessam que eles se sujem”, completou Anabela Sequeira.
Mais elementos tradicionais
Apesar deste avanço, a educadora do Jardim de Infância de Vila Boa quer mais. “Já pedimos também à Câmara de Barcelos uma caixa de areia. Gostava de ter aqui mais elementos tradicionais, fazer um circuito de água, ter umas cordas para eles poderem escalar, gostava de fazer com que as crianças abrissem ainda mais a imaginação. Nós aprendemos muito melhor se virmos, mexermos e tocarmos”, completou.
Para a Câmara de Barcelos, "estes momentos, que surgem da brincadeira criativa e espontânea ao ar livre, do faz de conta, da curiosidade, do fascínio em descobrir e do prazer em experimentar que a cozinha de lama proporciona, fazem a delícia das crianças, em todas as estações do ano"