Mau tempo também contribui para a crise no setor, afastando clientes para centros comerciais.
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Ruas quase desertas, lojas com descontos tentadores nas montras mas sem clientes a entrar e muita chuva que tem levado as pessoas para o conforto dos centros comerciais. Assim tem sido a realidade de quem vive a época natalícia no comércio tradicional do Porto. E, de acordo com lojistas ouvidos pelo JN "não é só o Natal que será para esquecer, mas o ano inteiro". Há raras exceções.
Quando, há 40 anos, Jayendra Manilal, de origem indiana, mas nascido em Moçambique, decidiu abrir negócio no Porto, a Rua de Cedofeita era equiparada, ao nível de afluência de clientes, à movimentada Rua de Santa Catarina, gozando da benesse do aluguer dos estabelecimentos serem mais baratos. Agora "dessa Cedofeita não existe nada", lamenta o comerciante de roupa de criança.
"Isto está parado e as pessoas procuram mais os centros comerciais", reforça Jayendra Manilal, comentando que por conta da pandemia tem sofrido "uma quebra de cerca de 30% nas vendas".
Joel Azevedo, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto, disse ao JN que tem "ouvido relatos das dificuldades", preferindo apelar ao "quão importante é agora as pessoas ajudarem o comércio tradicional a resistir".
Ainda em Cedofeita, também João Passos, com loja de carteiras e quiosque, reforça que o negócio "está péssimo". "Não há gente nas ruas, não só porque andaram a despejar os moradores para se fazerem hostéis, mas também porque agora, com a maioria das pessoas em teletrabalho, ninguém sai de casa. E quando saem vão para os shoppings".
O comerciante não tem dúvidas que o que tem "salvo" muitos colegas são as "vendas online". Paulo Lobo, 53 anos, é um deles, muito embora saliente que as vendas pela Internet "não são de agora". "Na ourivesaria sempre tivemos, porque foi uma forma que encontramos de chegar a todo o Mundo", reforçou. O negócio online vale "entre 30 a 40% das vendas".
Sobre a falta de clientes nas ruas, a 15 dias do Natal, Paulo refere que "as pessoas, cada vez mais, antecipam as compras para novembro".
Já Patrícia Rodrigues, de uma loja de brinquedos didáticos, resume: "Nem se compara com o ano passado".
Fila no shopping
Mal a chuva começou a cair mais forte, foi ver o centro comercial Via Catarina a encher-se de pessoas, com muitas lojas a terem filas de espera. "Eu faço questão de vir fazer compras ao comércio de rua, mas começou a chover tanto que a solução foi vir para o shopping e acabei por fazer também aqui umas comprinhas", disse Ana Pinto, 72 anos.
De regresso à rua, ouviu-se o mesmo desalento na ruas dos Clérigos, de Sá da Bandeira e de Passos Manuel. "A pandemia veio deixar o Mundo do avesso", concluiu um comerciante.
Ajudas
Estacionamento grátis
A Câmara do Porto decidiu implementar um conjunto de medidas para ajudar o comércio de rua. Entre elas, a isenção de pagamento das duas primeiras horas de estacionamento nos parques municipais da Trindade, Silo Auto, Duque de Loulé, e Alfândega.
Vales de compras
Em todas as compras feitas no comércio local com valor igual a 20 euros, o Município oferece um vale de desconto imediato de dois euros. Esta oferta só é válidas nas lojas aderentes que tenham porta para a rua e uma área até 250 metros quadrados.
Redução das rendas
A Autarquia do Porto vai reduzir em 50% o valor das rendas dos espaços comerciais que são geridos pelo Município.
Aposta
395 mil euros em iluminações de Natal
A Câmara do Porto investiu neste ano um valor ligeiramente acima dos 370 mil euros de 2019, mas que no contexto atual assume ainda maior relevância para o estímulo do comércio tradicional da cidade