No Bairro Alto, em Lisboa, esta noite de sábado, as esplanadas salvaram o negócio de vários restaurantes, que viram as reservas para o interior dos seus estabelecimentos serem canceladas de um dia para o outro.
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No dia em que passou a ser obrigatório um certificado digital ou teste negativo à covid-19 para refeições dentro dos restaurantes, muitos tinham as esplanadas cheias, mas no interior estavam vazios. Vários proprietários optaram por não comprar autotestes por não se sentirem aptos a fazê-los.
Sofia Diogo chegou a um restaurante de um chef famoso em Lisboa com um teste na mão. Lá dentro, ninguém para o fazer. "Isto é tudo novo", comenta uma funcionária do estabelecimento sem esplanada. Ao final de alguns minutos a conservarem para escolherem quem iria fazer o teste, um dos funcionários decide fazê-lo. "Temos receio de não o fazer bem, preferíamos não o fazer", admite Romana Silva, chefe de sala do restaurante, que acabou por testar a cliente dentro do estabelecimento "por ser mais confortável fazer o teste sentada".
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A cliente sentia o mesmo. "É chato ter de fazer o teste só para vir ao restaurante, não concordo com estas medidas", admite. Por este motivo, vários clientes cancelaram as reservas para o restaurante O Faia. "Ligou-me um grupo de seis pessoas a perguntar se podia trocar a reserva, cá dentro, lá para fora, porque não queriam ser testados pelo incómodo que é fazê-lo à porta do restaurante. Por acaso arranjei mesa, mas para outras reservas já não consegui e tivemos de cancelar", lamenta Pedro Ramos, proprietário do O Faia.
O dono da casa de fados, que ontem tinha o estabelecimento às moscas, ao contrário de sexta-feira, que teve 34 reservas, sentiu ainda uma grande quebra comparativamente ao sábado passado. "É notório que as medidas do governo prejudicaram muito. Hoje rejeitei várias reservas, num total de 12 pessoas", conta. Pedro Ramos, também dono do Versículo d"O Faia, com esplanada, conseguiu encher a esplanada neste restaurante, com 20 pessoas. "Pus mais três mesas lá fora. Se tivesse mais espaço certamente teria mais pessoas", acredita.
"Testes assustam"
Para Xavier Gonçalves, funcionário da Tasca da Tia Macheta, "os testes assustaram as pessoas". "Hoje tivemos menos clientes, no outro sábado tínhamos mais. Só ainda tivemos duas pessoas lá dentro hoje, tinham ambas o certificado da vacinação. Correu bem, achava que fosse mais chato", admitiu.
Já no Sentido Proibido, Joana Espada teve de sentar um casal na esplanada porque um deles não tinha o certificado digital de vacinação há 14 dias, não estando por isso válido. "Vinham ouvir fado, lá dentro, e tiveram de ficar cá fora. Se não tivesse esplanada, tinham de ir embora", reconhece a funcionária do espaço.
"Não tinham teste ou certificado"
No Kamasutra bar, Paula Barroso optou por não comprar testes. "Recuso-me a fazer, posso aleijar alguém com a zaragatoa. Prefiro ter prejuízo a ferir alguém", diz a proprietária do Kamasutra, que perdeu clientes que não tinham certificado de teste. "Nem sabiam que era preciso", diz. Paula Barroso partilhou ainda que vários colegas fecharam "por não se justificar estarem abertos".
"Eu venho para não estar em casa. Só tenho duas mesas cá fora e as pessoas só bebem uma cerveja ou outra bebida, não rende. Já convidei algumas pessoas a entrarem hoje, mas não tinham teste ou certificado", lamentou.
Em algumas ruas do Bairro Alto, como a Rua da Atalaia, vários restaurantes decidiram encerrar por causa do cancelamento das reservas.