Escolas de samba e grupos dedicam-se, todos os dias, a preparar o corso carnavalesco, que sai à rua daqui a pouco mais de um mês. Por ali, respira-se alegria.
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Entrar no armazém e olhar para as carcaças dos carros alegóricos, com estruturas despojadas de qualquer enfeite ou cor, pode fazer duvidar que, daqui a 38 dias, a 3 de março, o corso de Carnaval vai estar na rua. Mas vai. É que é assim todos os anos, em Estarreja: o último mês de trabalho é o mais intenso.
Há muito ainda para fazer, mas muito está já feito. Afinal, a preparação de um Carnaval começa poucos dias depois de a edição do ano anterior terminar. As escolas de samba e os grupos de folia estão, por estes dias, a trabalhar a todo o gás, para que nenhum pormenor fique esquecido. No final, espera-se que a cidade faça jus ao mote deste ano e se transforme num "teatro a céu aberto".
Entre tecidos e tesouras
Eugénia Azevedo é uma das personagens da história, mesmo sem desfilar na avenida. Desde a fundação da escola de samba "Trepa Coqueiro", há 30 anos, que é responsável pela confeção dos figurinos. Este ano, vencida pela "falta de paciência", ditada pelos seus 71 anos, "só" aceitou costurar 20 fatos. "Isso, para mim, não é nada. Dantes, fazia a roupa da primeira até à última pessoa. Este ano, só aceitei o da porta-bandeiras e do mestre sala, das baianas e de uma ala", conta, entre tecidos e tesouras. Só não deixa de vez porque vai "sentir saudade", diz, com paixão.
Mas se, este ano, a quantidade de indumentárias permitiu a Eugénia só começar a trabalhar "há pouco tempo", não falta quem ande à volta dos fatos há mais de dois meses, como lhe acontecia a ela outrora. "Temos várias costureiras totalmente por nossa conta, desde novembro", explica Vítor Bastos, presidente da "Vai Quem Quer".
Por ali, nem um mês depois de uma edição do Carnaval terminar, já se trabalha na seguinte, com o projetista a apresentar o tema. "Depois, há que construir o samba enredo, coordenar com o técnico da bateria e com a técnica das passistas. As roupas das costureiras passam para nós, que fazemos na sede os adornos. E há os ensaios e o carro. É preciso ter amor à escola", conta.
E, no armazém dos carros, o trabalho já começou há três semanas. "Estamos na fase da serralharia e de estruturas. Este ano, tenho um dinossauro que requer movimento, por isso também já estou a trabalhar na esferovite", explica José Oliveira, de 49 anos, que tem cinco carros alegóricos a seu cargo. Constrói autênticos palcos ambulantes há 25 anos, da raiz até ao retoque final com o pincel. Está-lhe no sangue, como a quase toda a gente do concelho. Gente essa que, este ano, até participou num videoclipe, apresentado ontem, da música "Sorria", encomendada pelo Município e cantada por Tiago Nacarato. "Sorria, meu barco vai subir a ria", já cantam todos.