O "Jakob Maersk" encalhou no local em 1975 e teve a proa à vista durante 20 anos. Câmara do Porto analisa.
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O nome é sugestivo: "Proa do Porto". O autor da proposta, que passa por instalar uma escultura em aço com 22 metros de altura na zona do Castelo do Queijo, na frente marítima portuense, é o arquiteto e artista plástico Diogo Brito. A escultura terá a forma de um arco, com uma malha transparente de aparência enferrujada, e iluminação à noite, alimentada pelas ondas do mar.
A "Proa" será uma forma de lembrar o desastre com o petroleiro dinamarquês "Jakob Maersk", que ardeu ao largo da Foz do Douro em janeiro de 1975, partiu-se e ali deixou encalhada a proa, durante 20 anos, junto às rochas. A proposta foi apresentada ao Executivo de Rui Moreira, terá sido bem acolhida e está em análise.
"Pessoalmente, considero a ideia brilhante. Seria um novo marco de ligação à frente marítima. Faz falta", diz Ricardo Valente, vereador com os pelouros das Finanças e da Economia. O autarca adianta que, da parte do Município, o Plano de Ordenamento da Orla Costeira está "praticamente concluído". Segue-se o dossiê do Plano da Frente Marítima, "onde cabem as concessões, a "Proa do Porto" e outros", esclarece, adiantando que "este trabalho poderá começar no primeiro semestre de 2023". Esta fase, de análise prévia, implicará "vários pareceres externos, designadamente da APDL", avisa.
"Para levar avante a proposta, será necessário reunir um amplo consenso político do ponto de vista da cidade"
Custa 900 mil euros
Além de poder tornar-se uma "atração turística", Diogo Brito fala em "recuperar um fragmento da memória coletiva e evocar uma história que não terminou". Na época, o crude, a arder, encheu a cidade de fumo durante três dias. Morreram sete tripulantes do navio.
"De dia, a Proa faz alusão ao fim da era do petróleo. À noite, da era de energia limpa [ondas do mar]"
O arquiteto, que fundou o ateliê OODA (está com o projeto do antigo matadouro de Campanhã, entre outros), aposta na regeneração do local que liga o forte ao mar e que é muito procurado pelos turistas, mas não tem condições de segurança. "No chão, a proposta passa por fazer um remate com betão pré-fabricado e reciclado, numa espécie de língua que cobre o atual tubo de água degradado e que terá inscrito um poema de Miguel Durão, a fazer um elogio à cidade e aos portuenses. Incluirá guardas metálicas para proteger quem visita", explica.
"No arco e estrutura superior, a ideia é usar aço corten, tanto no perfil tubular, como na malha metálica. O aço corten tem grande resistência à corrosão, uma esperança de vida entre 50 e 80 anos, mesmo quando exposto à intempérie. Tem uma aparência enferrujada, que, plasticamente, remete para a condição da antiga proa encalhada", anota.
A iluminação noturna será ecológica: "Com recurso a uma tecnologia desenvolvida pela Universidade do Porto, é possível gerar eletricidade através do movimento das ondas. A iluminação à noite será feita através desta energia".
Quanto ao custo, estimado em cerca de 900 mil euros, o autor do projeto espera o apoio da Câmara e revela que há "dois privados disponíveis para financiar, ao abrigo do mecenato". O vereador Ricardo Valente afirma que é "prematuro" falar deste aspeto, mas vai adiantando que "o cofinanciamento da arte urbana por entidades privadas, pelo mecenato, é importante".
Detalhes
Ano para inaugurar
Para Diogo Brito, 2024 seria o ano de execução e obra, e 2025, 50 anos passados da tragédia, seria o da inauguração.
Retirada da proa
Em 1995, por razões de saúde pública e ambientais, a proa do navio "Jakob Maersk" foi retirada do local.