Câmara do Porto procura espaço para Ordem Diocesana que funciona em deficientes instalações numa zona com muitos idosos e forte prevalência de doenças do foro mental.
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O Centro Social da Obra Diocesana do Porto, no Bairro de Pinheiro Torres, está fechado, agora, devido às restrições do confinamento geral, mas quando reabrir será de novo com oito utentes, ficando de fora muitos idosos num empreendimento social da cidade conhecido atualmente pela insegurança, o forte tráfico e consumo de droga, a violência e onde as doenças mentais prevalecem entre os mais velhos que vivem sozinhos. Obra e Câmara do Porto procuram neste momento um espaço condigno capaz de receber todos os 70 beneficiários.
A grande maioria está a receber apoio domiciliário. "Não podemos ter todos aqui no centro de dia mas muitos estão em casa por opção. Porque têm doenças associadas e por medo de ficarem infetados e não por andarem na rua", explica Fátima Rocha, que gere o centro.
Muitos dos idosos vieram do Aleixo, onde viveram décadas, e por isso não estranham o ambiente encontrado em Pinheiro Torres. Estão "habituados ao barulho, à pancadaria, aos tiroteios e às patrulhas na rua", como é o caso de Albertina Monteiro. Veio para o bairro assim que a sua torre foi demolida no Aleixo. "Gosto de estar aqui, mas estava farta de estar em casa. Estive lá nove meses fechada e como sou invisual não tinha ninguém que me trouxesse à rua", conta. O convívio no centro anima os dia da reformada com 74 anos. Entretanto, esta semana voltou para casa.
"A pandemia está a ser muito má para eles porque embora tenham as nossas visitas não têm mais ninguém. Muitas vezes sou eu que lhes dou a medicação. Caso contrário, nem a compram ou tomam tudo de forma errada ou não atualizada. Muitos não têm capacidade de apanhar um transporte ou de se deslocar a pé", conta Fátima Rocha, assistente social que também dá "apoio psicológico".
Mais serviços necessários
"Era uma valência que devia haver no centro porque, para além da solidão, as doenças do foro mental aqui no bairro são uma desgraça", acrescenta. Bipolaridade, esquizofrenia, demência e outros problemas levam a que muitas vezes ocorram casos de convulsões.
Manuel Moreira, que preside há dois anos à Obra Diocesana do Porto, reconhece que a oferta de serviços deveria ser maior. "Há vários anos que este centro em Pinheiro Torres está aquém das necessidades e já por diversas vezes falamos disso com a Câmara do Porto que é dona das instalações. Neste momento, procura-se um novo local capaz de receber todas as pessoas que precisam do nosso apoio, embora continuemos com o nosso trabalho de apoio domiciliário, não só ali como noutros pontos da cidade", salientou o antigo governador Civil do Porto.
De acordo com Manuel Moreira, a Autarquia "admite construir um edifício de raiz ou então utilizar um equipamento público na freguesia de Lordelo do Ouro" que possa receber não só o centro social da Obra Diocesana como outras instituições de apoio social.
Ao JN, a Câmara do Porto diz que "a necessidade de substituição das instalações foi identificada no âmbito do planeamento da rede de equipamentos sociais", que "está, neste momento, em estudo". Fátima Rocha não esconde que "o ideal era manter o serviço no bairro e evitar assim a deslocação dos idosos".