Instituição de Viseu, que recolhe cães e gatos abandonados sem espaço, recebe pedidos de todo o lado. Responsáveis defendem castração obrigatória.
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Leitinho e Mickey, no colo de Ana Maria Vaz, responsável pelo Cantinho dos Animais Abandonados, são dois dos mais de 400 cães que encontraram na instituição um novo lar depois de terem sido largados pelos donos. Leitinho, de raça pequena, foi abandonado juntamente com quatro irmãos num caixote de lixo, em frente à associação zoófila onde acabaram por ficar a viver. Os dois patudos estão sempre ao lado da dirigente enquanto visitamos as instalações do cantinho, localizadas numa zona de mato em Rio de Loba, em Viseu.
As 115 boxes existentes no terreno com 12 mil metros quadrados estão lotadas. Não há espaço para mais bichos. À medida que nos aproximamos das suas "casotas" os cães vão ficando mais agitados, ladram mais. Querem atenção, mas sobretudo festas. Ana Maria Vaz e a voluntária Fernanda Cardoso lá lhes vão dando algum carinho. Nenhum é violento. Muitos só querem brincadeira. Anseiam por novos donos.
A associação tem ao todo 511 animais, a maioria são cães (420). Tem também 90 gatos e uma cabra. Até já teve burros.
"O cantinho nunca esteve tão cheio", confessa Ana Maria Vaz, salientando que há um ano foi necessário construir mais boxes "porque já não havia onde pôr tantos animais".
Culpar a covid
À frente da instituição há 30 anos, garante que a culpa não é da pandemia. "É muito fácil culpar a covid de tudo e mais alguma coisa", atira, vincando que o abandono aumentou devido "à revolta das pessoas, à sua insensibilidade e à vinda de animais de outras localidades". "Temos constantemente o telefone a tocar de pessoas que ligam de todo o lado, São João da Pesqueira, Lamego, porque lá está tudo cheio. Até do Porto ligaram e fiquei embasbacada. Querem trazer animais para aqui e não pode ser. Se todos os outros encerram porque não têm mais espaço, nós também não temos", frisa.
Apesar das negas, os cães e gatos não param de ser "descarregados" à porta. É ao fim de semana que há mais abandono e sempre durante a noite. São largadas fêmeas com a sua ninhada em caixotes e baldes. Nem as câmaras de vigilância afastam quem se quer desfazer dos seus ex-fiéis amigos.
Os responsáveis do cantinho acreditam que só com uma lei que torne a castração obrigatória é que a situação se resolve.
"A lei que proíbe o abate dos animais foi bem aprovada, mas foi fora de tempo, primeiro devia ter sido levado ao Parlamento a lei da castração obrigatória, com coimas para quem não faz criações. Também devia haver uma polícia só para fiscalizar isso", defende Ana Maria Vaz.
Detalhe
"Porta-chaves" procurados para adoções
A maioria dos animais que se encontra no Cantinho dos Animais Abandonados, em Viseu, tem seis a sete anos e é de médio grande porte. Quem quer adotar procura sobretudo cães pequenos, apelidados "porta-chaves". Só os estrangeiros - ingleses e holandeses - que vivem na região é que procuram "o cão que ninguém quer", mais velho e até com algum problema físico. Só este ano foram entregues 160 patudos nestas situações. Em média a instituição consegue arranjar um novo lar para 500 animais. O problema é que vão entrando outros tantos e por isso o espaço está sempre cheio.