Dois rapazes gémeos, que nasceram, no dia 31 de janeiro, na Maternidade de Viana do Castelo com 34 semanas, acusaram positivo no teste à covid-19.
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Os bebés estão na incubadora, estáveis e sem necessidade de suporte ventilatório. A mãe, com 38 anos, entrou positiva no serviço e, após o parto de cesariana, já na altura de ter alta clínica, começou a manifestar sintomas. O estado de saúde agravou-se e continua internada em vigilância. A confirmar-se o contágio pela mãe, trata-se de um fenómeno "raríssimo" no Mundo.
Segundo a diretora da Maternidade, Paula Pinheiro, o caso está a ser seguido pelo Instituto Ricardo Jorge e poderá tratar-se de uma situação de contágio de mãe para filho. "Já analisámos a placenta, as membranas da placenta e o leite materno. Neste momento já nos restam poucas dúvidas de que foi uma transmissão vertical", declarou.
O que, a confirmar-se, de acordo com especialistas contactados pelo JN, seria "raríssimo", tendo em conta que, até agora, a nível mundial, a regra é não haver transmissão da covid-19 entre a grávida e o feto.
"Há alguns casos descritos a nível mundial, mas é uma situação extremamente incomum. Há milhares ou milhões de grávidas que fizeram o parto estando positivas em todo o Mundo e a transmissão vertical é uma situação de extrema raridade", declarou Caldas Afonso, pediatra e diretor do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN). "Somos a maior maternidade do país e desde março ou abril do ano passado, já tivemos à vontade cerca de 300 senhoras que, ou na gravidez ou no parto, eram positivas e nunca tivemos nenhuma situação".
Caldas Afonso sublinha que a infeção "in utero" (contágio de mãe para filho) "não é um problema". "Temos uma experiência de quase um ano com esta realidade e não tem acontecido. Aliás, nas primeiras medidas evitávamos o aleitamento materno e neste momento já não é prática que desaconselhemos", recorda.
Já Carlos Moniz, neonatologista e ex-diretor do serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria, lembra que "a transmissão de mãe para filho é raríssima" e tanto quanto tem conhecimento "até agora não está demonstrada". A confirmar-se o caso de Viana, porém, "é interessante, pela parte científica é um passo importante".
Em julho de 2020, nasceu uma menina no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, infetada com 34 semanas e dois dias de gestação, tendo sido provado que "houve transmissão vertical congénita "in utero", através de uma amostra de sangue retirada da criança.
Pai não está infetado
Os gémeos nasceram no domingo, dia 31 de janeiro. A mãe estava positiva, mas o pai não está infetado. Residem no distrito de Viana do Castelo. Os pais acompanham os recém-nascidos através de fotografias e vídeos.
Sem complicações
Segundo o diretor do CMIN, Caldas Afonso, não existe naquela maternidade histórico de "complicações" relacionadas com partos de mulheres que estavam ou estiveram infetadas.
Os primeiros do país
Os irmãos nascidos prematuramente na Maternidade de Viana do Castelo serão os primeiros bebés gémeos infetados com covid-19 a nível nacional.