Com noites mal dormidas e ainda em choque por verem a arder, em muitos casos, o trabalho de uma vida em poucos minutos, os empresários apelam a ajudas para conseguirem retomar a laboração e manter os postos de trabalho.
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BRADCO: "É frustante, mas vamos lutar"
Em 2003, Rosa Paiva viu a antiga fábrica da Clarks fechar. Tinha lá trabalhado 15 anos. Dois anos mais tarde, tornou-se administradora delegada da Bradco, uma empresa que produz acessórios de marroquinaria e relojoaria de luxo, que se instalou nas mesmas instalações. Volvidos 15 anos, e a dias de mudarem para um novo edifício, perderam praticamente todas as máquinas e matérias-primas. "É frustrante, mas vamos lutar pelo que está vivo. O que a Bradco tem agora é um teto e uma equipa, mas não sei quando vou poder dar trabalho a 300 pessoas. Ajudem-nos! Ajudem as minhas pessoas", pediu aos secretários de Estado.
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"Não somos de cruzar os braços, mas se não houver ajudas, os empregos estão em risco. Foram prejuízos avultados", atesta a empresária.
Ontem, a azáfama era grande, com os funcionários a retirarem o pouco que sobrou do piso inferior. Dizem-se prontos a trabalhar. "Desde que haja matéria-prima temos força e saber-fazer para continuar", garantem os trabalhadores.
SHUSOUL: "Não se podia fazer nada"
Há um ano e meio, Eulália Santos, desempregada, optou por criar o próprio emprego, a Shusoul, empresa de calçado. Além dela e do marido, emprega cinco pessoas.
"Estivemos fechados por causa da pandemia, mas estávamos com bastante trabalho. Foi um choque, foi tudo muito de repente", admite.
Estavam na empresa quando uma funcionária ligou a avisar que o edifício estava a arder. Quando chegou cá fora, Eulália ainda acreditou que o fogo iria ficar ali confinado à SaltyPula. Seguiu-se o choque e o desespero. "Não se podia fazer nada a não ser ver arder" a única fonte de rendimento da família.
A esperança está depositada nas ajudas prometidas. "Se nos derem apoio, espaço e condições, queremos manter a empresa. Temos clientes e encomendas", salienta.
PAIVADOCE: "Chorei como nunca na vida"
Carlos Lima, gerente e proprietário da Paivadoce, que emprega 25 pessoas, estava em Sobrado, Valongo, quando recebeu a chamada do sócio a notícia, a chorar. Ele próprio não conseguiu conter as lágrimas. "Fiz o caminho todo até aqui a chorar como nunca chorei na vida. Vimos 25 anos de trabalho a arder. Todas as economias e investimentos feitos", explica.
A empresa tem endividamento bancário e não conseguirá atravessar este processo nem manter os postos de trabalho sem apoios. Antevê dificuldades. "O que se tem visto é que se demora a pôr de pé, nestas catástrofes, as infraestruturas para se voltar a trabalhar. Não acredito que vá ser rápido neste caso também. Desafio a que olhem por nós", pede o empresário.