Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967, de Cascais a Alenquer, a chuva chegou a atingir os 170 litros por metro quadrado (por hora). Água e lama levaram bairros e aldeias e cerca de 20 mil casas, sobretudo barracas e construções precárias, foram destruídas.
Corpo do artigo
Um dia após o "dilúvio", o Jornal de Notícias informava que morreram 250 pessoas. Mas, dias depois, o número já era 462 mortos. Sem números oficiais, tudo indica que terão sido mais de 700 a vítimas mortais.
"Não há memória de tamanha desgraça. Sou bombeiro há dezenas e anos, assisti ao ciclone de 1941 e jamais observei semelhante tragédia", disse um bombeiro ao JN. De Cascais a Alenquer, passando por Oeiras, Lisboa, Odivelas, Loures, Alhandra, Alverca e Vila Franca de Xira ficou tudo inundado e "arrastado pelo enxurro".
Em apenas cinco horas, registou-se um quinto da precipitação verificada no ano inteiro. O pico deu-se entre as 19 horas e a meia-noite. Só na pequena aldeia de Quintas, em Castanheira do Ribatejo, 90 dos 156 habitantes perderam a vida nessa tragédia.
Bairros mais pobres foram os mais atingidos
As zonas mais impactadas pelas inundações foram os bairros mais pobres. Foi nestas áreas rurais que mais desalojados e mortos se registaram. Dos enormes bairros de barracas, pouco restou, das casas e das pessoas.
Lisboa ficou totalmente intransitável, mas os bairros residenciais da cidade não sofreram danos contrariamente aos bairros arrasados que se encontravam em zonas baixas, circundadas de colinas e construídos de tábuas e latas.
Quando o repórter pediu a um jovem para lhe relatar o que se tinha passado, a resposta foi: "choveu, choveu, choveu".
Na edição do dia 27, o JN publicou várias fotografias da destruição com o título "Lisboa e arredores sob o manto da tragédia", responsabilizando "a chuva torrencial e as grandes enxurradas" pela catástrofe.
Rainha Isabel II e o Papa Paulo XI enviaram telegramas de condolências
Horas depois da chuva, "o chefe de Estado Almirante Américo Tomáz e o presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar", visitaram um dos locais afetados. "Trocaram impressões sobre os principais aspetos e providências em execução ou a levar a efeito no sentido de serem dispensados na mais ampla medida os socorros às famílias que perderam os lares e haveres", informava o Jornal de Notícias.
O desastre das inundações teve ecos por todo o Mundo e a Portugal chegaram telegramas de condolências das mais altas figuras, da Rainha Isabel II ao Papa Paulo VI.
Dias depois das cheias, as notícias sobre a tragédia deixaram de aparecer nos jornais. Ao que tudo indica, terão sido ordens diretas de Salazar que, ao terceiro dia após as inundações, terá mandado parar de contar os mortos.