Ao fim de 54 anos, os restos mortais de António Silva, um soldado paraquedista português abatido a tiro em Angola, na Guerra do Ultramar, chegaram esta quarta-feira ao cemitério de Lobão da Beira, Tondela, a sua terra natal.
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A urna entrou no cemitério com dezenas de paraquedistas a cantar o hino dos boinas verdes.
Morto em combate a 19 de setembro de 1962, em Úcua, em serviço do Regimento de Caçadores Paraquedistas de Tancos, a transladação foi tratada pela União de Paraquedistas, em colaboração com a Força Aérea Portuguesa e o Regimento de Paraquedistas da Brigada de Reação Rápida do Exército Português.
Quando o soldado morreu, a família não tinha posses para transladar o corpo, que acabou sepultado em Luanda.
Ernestina Silva, natural de Seixo da Beira, Oliveira do Hospital, a única filha do soldado, a residir nos Estados Unidos, tinha esta quarta-feira no rosto a expressão de missão cumprida. "Desde que era criança que queria trazer o meu pai e consegui", afirmou depois de nove anos de luta.
"A União dos Paraquedistas fez um peditório e juntou 5 mil euros e eu paguei 2500 euros ", explicou, deixando um desabafo: "O Estado abandonou os soldados que lutaram pela Pátria. A obrigação era simplesmente trazer os restos mortais de todos para Portugal", defende.
Isidro Esteves, da União de Paraquedistas, explicou que ainda estão quatro ou cinco soldados portugueses em Luanda. "As famílias não se mostraram interessadas em trazê-los", afirmou.
António Silva foi companheiro de recruta na base aérea de Tancos de Leonídio Melo, de Tonda. "Já não contava com ele aqui, mas tinha de me despedir", afirmou. António Ferreira Mendes andou com o soldado na escola primária e garante: "Era o mais inteligente de todos".