O clima que se vive no centro comercial de Stop, no Porto, é de incerteza e insegurança, mesmo para os espaços que estão autorizados a abrir portas. Lojistas que permanecem temem futuro encerramento de todo o edifício e há espaços que se recusam a abrir em forma de protesto.
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João Guimarães adquiriu, há cinco anos, duas frações no edifício, para dinamizar o estúdio de gravação "Pôr do Sol". Mas com a ação da Polícia Municipal, que encerrou mais de 100 espaços, o proprietário deixou de ter acesso a uma das salas, que funcionava como régie do estúdio.
"O meu trabalho está comprometido, assim como o de muitos colegas. Estamos com este problema em cima da mesa nesta altura quente. Parece-me que a altura é complicada e dificulta realmente a vida dos músicos", desabafou o músico.
Foram os músicos que, desde 1993, fizeram renascer o antigo centro comercial e evitaram o seu fecho. São poucos os que hoje não se referem ao Stop como "a verdadeira casa da música do Porto".
"Ninguém fica a ganhar se perdermos isto. O que aconteceu aqui foi um fenómeno único, que podia ser uma distinção da cidade", sublinhou João Guimarães.
A saída dos músicos pode sentir-se em cada um dos três pisos do centro comercial. O som das bandas que ali ensaiavam diariamente, deixou de se ouvir e foi substituído pelas poucas conversas que se fazem nos corredores. Uma delas era entre Raquel Teixeira e Rosana Lascasas, mãe e filha, que gerem uma loja de venda online há três anos.
"Estava em casa quando me ligaram para vir ao Stop. Até tremi", referiu Raquel Teixeira, acrescentando que, apesar de ouvir falar num possível fecho dos espaços não licenciados, foi apanhada de surpresa.
E mesmo com licença para permanecer aberta, a lojista não acredita que o centro comercial tenha futuro: "O Stop está morto com a saída dos artistas. Isto nem vai dar lucro a ninguém. A única perspetiva que tenho é que isto vai ficar mais deserto".
Segundo Rosana Lascasas, os músicos que preenchiam o Stop também levavam segurança aos lojistas. "Sem eles, o futuro será certamente duvidoso. Temos receio de quem possa entrar aqui", referiu a jovem.
O "The Skull Room Studio" foi um dos 21 espaços que não foram selados. Ainda assim, o proprietário, José Dourado, já tinha planeado a saída para um novo estúdio que adquiriu na cidade. "Infelizmente, coincidiu com a situação atual", lamentou.
Convívio e partilha
Enquanto retirava os materiais da fração, José Dourado partilhou o ambiente familiar que ali viveu durante muito tempo: "Já estou aqui há cerca de cinco anos. Era um convívio total. Havia participação e conversa entre todos, partilha entre as salas e os músicos. Um ambiente que não se vê em lado nenhum".
Tal como Raquel Teixeira, também José Dourado acredita que o futuro mais provável é um encerramento total do Stop: "Acho que é mesmo o que vai acontecer. É uma pena", referiu.
Os espaços selados são facilmente identificados através de um aviso da Câmara do Porto. Mesmo assim, há frações que, mesmo legalizadas, recusam-se a abrir portas, por não concordarem com a situação.
"O dia que já era previsto aconteceu finalmente", expôs Rui Guerra, da Associação dos Músicos do Stop. Quase trinta anos depois, a trajetória dos músicos termina no Stop. O que não vai acabar é o movimento com cerca de 500 artistas. "A associação vai continuar e vai tentar resolver, essencialmente, a situação de todos os artistas afetados", acrescentou.