"Agosto era uma paz, agora ninguém circula". Quem o diz é José Rodrigues, taxista no Porto há 45 anos. "O trânsito está caótico, com a cidade sobrecarregada de carros", explica.
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Tempo de férias por excelência, com muitos habitantes a saírem da Invicta, agosto era sinónimo de acalmia no trânsito. Porém, o crescente fluxo de turistas e, sobretudo, as obras em vários locais, acabam por transformar um mês que era de desafogo na circulação automóvel numa época em tudo parecida com as restantes. E como as empreitadas estão para durar, as dores de cabeça vão agravar-se com o regresso ao trabalho e às aulas.
As obras nos arruamentos espalham-se pela cidade. As mais visíveis vão desde a Avenida Fernão de Magalhães até à Foz, passando pela Rua Dr. Alfredo de Magalhães (saída para a VCI). No Centro Histórico, Mouzinho da Silveira é um ponto crítico, e na Baixa, tradicional destino de compras e de passeio, há filas frequentes nas ruas Sá da Bandeira e de Fernandes Tomás. A Câmara do Porto justifica os trabalhos na estrada pela "necessidade de conservação dos arruamentos, substituição de redes de água e saneamento e adaptação da rede viária às novas exigências de mobilidade, priorizando a circulação a pé e de bicicleta, assim como os transportes públicos".
Em Mouzinho da Silveira está a ser criado o museu subterrâneo no rio da Vila, entre a Estação de S. Bento e o Largo de S. Domingos. As alterações nas ruas Formosa e Fernandes Tomás têm a ver com a renovação do Mercado do Bolhão. Aos automobilistas, a Autarquia pede "compreensão" e que "evitem tanto quanto possível a circulação em zonas de obra".
"Atrapalham bastante"
Em Mouzinho da Silveira há histórias curiosas. Emídio Pinto foi um dos taxistas cujos passageiros tiveram que deixar a "corrida" a meio: "Uns clientes saíram do táxi e foram a pé até à Ribeira para não perderem a partida do barco, num passeio pelo Douro. Outros, que fui buscar a um hotel na Ribeira fizeram o mesmo. Iniciámos o trajeto às 10.50 horas e às 11.20 continuávamos parados no trânsito. Iam para S. Bento para apanhar o comboio para Lisboa, às 11.30 horas. Pagaram nove euros e saíram".
Fábio Blanco, um brasileiro que trocou São Paulo pela Invicta e faz serviço de mota para a Uber Eats , queixa-se das "muitas obras" e diz que as empreitadas "atrapalham bastante". Concentrar várias intervenções no mesmo período tem sido uma queixa recorrente. Os comerciantes são dos primeiros a protestar por verem perigar os seus negócios temporariamente.
O Município afirma que "são realizadas reuniões semanais para coordenação", mas adverte que "mesmo assim o número de intervenções impede que se evite a simultaneidade de obras". É realçado que "a cidade vive um momento de grande atividade, o que motiva a realização de obras particulares". É referido, "a título de exemplo", que "são recebidos mensalmente cerca de 300 pedidos de condicionamento de trânsito (ocupação parcial ou total da faixa de rodagem) para realização das mais diversas operações, tais como ligações de ramais de água, gás e eletricidade; cargas e descargas para edifícios", entre outros trabalhos.
As filas em Fernão de Magalhães estão para durar, pois a renovação está a ser feita por etapas. A marginal da Foz - avenidas Brasil e Montevideu - também está com estaleiro. As ruas Nova de Alfândega, à beira-rio, e dos Clérigos, em direção aos Aliados, costumam estar entupidas e agosto não foge à regra. Nestas artérias, o turismo deixa a sua pegada.
ÍNDICE
38 minutos diários perdidos no trânsito
No Porto, os condutores perdem cerca de 38 minutos diariamente com os engarrafamentos. As contas, por ano, dão um total de 145 horas perdidas no trânsito. Estes dados, de 2019, são da TomTom.
2.º lugar no ranking do congestionamento
Ainda segundo o índice da TomTom, o Porto é a segunda cidade mais congestionada do país, com 28% de tempo extra de viagem. Lisboa, com 32%, lidera o ranking.