Sete meses após o incêndio num quarto do serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, abriu o quarto onde morreram duas pessoas. Os danos foram tão graves, que deixaram a ala a funcionar por fases durante quatro meses, abrindo apenas em abril.
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A obra devido ao incêndio custou cerca de 200 mil euros e foi o ponto de partida para renovar outras alas do hospital, que já tiveram início. A empreitada na ala atingida demorou quatro meses a ficar pronta, e teve de ser feita por fases. O quarto demorou sete, abriu há duas semanas e já está ocupado. "Muito provavelmente os doentes que lá estão nem fazem ideia do que se passou", referiu o diretor de Pneumologia.
Conforme o JN noticiou na altura, 19 de dezembro de 2021, um doente decidiu fumar um cigarro, provocando a morte ao paciente que estava ao lado, impossibilitado de fugir às chamas. O responsável pelo fogo ficou queimado e acabou por morrer dias depois e nenhum pertencia àquela enfermaria. O causador do incêndio "era doente de infecciosas e padecia de várias patologias, incluindo respiratórias, e o outro, que morreu dias depois, era de medicina interna", explicou Venceslau Hespanhol, diretor de Pneumologia.
Na altura, a Polícia Judiciária soube logo, sem sombra para dúvidas, que as chamas partiram da cama do doente, que tinha um maço de tabaco e um isqueiro. Mas com a morte dos dois doentes, o que provavelmente nunca se virá a saber é como terá sido ateado o fogo: se o doente estaria a fumar e inadvertidamente incendiou a roupa da cama ou se o fez intencionalmente.
"O foco centrou-se no quarto, onde a destruição foi total, porque foi imediatamente travado com as portas de contrafogo que todos os quartos têm", explicou, por sua vez, ao JN, João Sousa, diretor de Equipamentos do S. João. O que se seguiu, e deixou a enfermaria inoperável, foi o fumo: "Destruiu o corredor todo e tivemos que reabilitar esta ala toda: pinturas, tetos, sistemas de ar e proteção contra incêndios", completou o engenheiro.
"muita colaboração"
Quanto ao dia 19 de dezembro do ano passado, Venceslau Hespanhol, de folga naquele domingo, recorda que chegou ao hospital em menos de meia hora. O fogo teve início por volta das 17 horas e às 22 já estava tudo calmo, sem bombeiros, agentes da PJ ou doentes. "A essa hora os pacientes já estavam todos instalados, observados e bem", tendo sido divididos por outros serviços e ainda pelo Hospital de Gaia, disse, prosseguindo que, em especial naquele dia, "houve muita colaboração. Empurrámos uns para um lado e outros para outro e toda a gente ajudou".
Processo criminal acabou com morte do suspeito
A investigação que a PJ do Porto iniciou após o incêndio concluiu que as chamas foram ateadas pelo doente que entretanto faleceu. Como tal, o inquérito-crime foi arquivado por não ser possível imputar a responsabilidade criminal a um defunto. Porém, existe ainda possibilidade de a investigação ser aproveitada para eventuais processos cíveis. Até ontem, o JN não conseguiu saber se familiares de vítimas e ou o próprio hospital interpuseram processos nos tribunais cíveis na tentativa de receber indemnizações. Nestes processos, as conclusões dos inquéritos internos da Unidade Hospitalar também podem ser aproveitadas.