Vários pedaços de estuque dos tetos de uma casa classificada como Património Municipal do Porto estão a cair e uma das paredes estruturais abateu.
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No espaço de um ano, o nível de degradação do número 72 da Avenida do Brasil, na Foz do Douro, no Porto, "é visível e frustrante", denunciam os proprietários da casa, indicando a obra ao lado como causadora dos danos.
Por sua vez, as empresas responsáveis pelo empreendimento em construção dizem não saber de "quaisquer estragos irrecuperáveis" provocados pelos trabalhos.
Os proprietários da habitação relatam várias episódios em que os gessos caídos dos tetos só não atingiram alguém por uma "questão de minutos". A Câmara do Porto, responsável pela atribuição do título ao imóvel, diz que não intervém por não ter detetado "situações de perigo iminente" nas vistorias já feitas à habitação. E acrescenta que "a obrigação de executar as obras de conservação necessárias à reposição da segurança e salubridade do imóvel é do proprietário".
"As vigas de madeira que estavam encastradas na parede meeira que era partilhada entre a nossa casa e a anteriormente existente foram arrancadas com a pá de uma retroescavadora", refere Ricardo Rolo, 50 anos, um dos proprietários e morador naquela habitação, apresentando fotografias do momento. Desde aí, assegura, a gravidade dos danos foi aumentando: "Com as escavações, a parede do lado da obra abateu".
Em resposta ao JN, os responsáveis da empreitada admitem "perturbações" provocadas pelas escavações, mas garantem que as mesmas já terminaram e que "em breve, se houver algo a reparar, será reparado".
Mas para Hélder Ramos, engenheiro civil há mais de 30 anos, a quem a família pediu um parecer, aquele prédio centenário está "em perigo de ruína". Explica que "a parede [estrutural da casa] está continuamente a deformar-se" e as fissuras ficam mais profundas com o passar do tempo.
relação causa-efeito
Agenor Rolo, 55 anos, lembra que a família tem gasto muito dinheiro ao longo dos anos para manter a fachada "o mais original possível e em boas condições". Até porque a classificação municipal a tal obriga. "É cruel ver que a Câmara não fez e continua a não fazer jus à classificação que ela própria atribui ao edificado, permitindo assim a sua degradação", lamenta.
Aliás, o historiador de arte Francisco Queiroz afirma que aquele imóvel será um caso raro na cidade. Além de reunir elementos artísticos de várias épocas, há "pouquíssimos estudos sobre os interiores das habitações no Porto".
"Os tetos vão cair aos bocados", assegura Hélder Ramos, garantindo a existência de uma relação "clara" de causa-efeito com a obra ao lado. As técnicas utilizadas, como a de ancoragens, explica, provocam a "descompressão do terreno". Os promotores do empreendimento garantem: "Seguiram-se escrupulosamente os projetos aprovados e os métodos construtivos indicados".
No entanto, Hélder Ramos afirma que os danos já provocados nos estuques são "irrecuperáveis".
