Tratamento não farmacológico foi criado há um mês pelo Hospital de S. João e funciona na unidade de Valongo. Atividades estimulam funções cognitivas.
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Na unidade de neuropsicologia do Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), o doente vítima de AVC aprende quase tudo de novo. Fazem-se exercícios físicos e atividades e estimulam-se as funções cognitivas. A reabilitação cognitiva é uma valência criada há um mês e funciona em Valongo.
Hoje comemora-se o Dia Nacional do Doente com AVC. Há três semanas, José Miranda, de 56 anos, estava longe de imaginar que hoje seria um dos 14 internados na reabilitação cognitiva, pertencente ao Serviço de Psicologia do CHUSJ, através da unidade de neuropsicologia e em parceria com o Serviço de Medicina Física e de Reabilitação. Estava a pintar a casa quando caiu inanimado no chão. Foi a mulher quem o encontrou e chamou o INEM.
No antigo Hospital de Valongo, para além da atividade em ginásio e das sessões de fisioterapia, José, que mostra dificuldade em andar, tendo ficado com alguma incapacidade num dos braços, faz exercícios e atividades que estimulam funções cognitivas como atenção, memória, linguagem, cálculo, funções executivas, entre outras.
Várias patologias
Na sala da terapia da fala e da terapia ocupacional promovem-se jogos, alguns associados às crianças. Um deles envolve a coleção de miniaturas de um supermercado. "Pode ser à partida muito infantil, mas para os doentes resulta muito bem e é muito importante a nível cognitivo", refere Cláudia Sousa, coordenadora da neuropsicologia.
A reabilitação cognitiva é um tratamento não farmacológico que tem por objetivo recuperar ou compensar perdas de funcionalidade, por consequência de várias patologias, como doença vascular cerebral (como o AVC), a doença do movimento (como acontece com os doentes com Parkinson), doença desmielinizante (como é o caso da esclerose múltipla), epilepsia, tumor cerebral, demência, entre outras. Mais recentemente, também ex-infetados com o vírus da covid-19 acedem ao serviço para tratamento de sequelas.
Mais homens
Neste serviço há mais homens do que mulheres e a idade dos pacientes ronda os 50 a 60 anos. "Os homens têm mais comportamentos de risco", informa a médica Isabel Marantes, que com a colega Nilza Pinto conduzem José para a sala de reabilitação.
No total são oito horas diárias de tratamentos, entre exercícios físicos e de estímulo cognitivo. "Este é um programa integral para as pessoas que sofram de alterações neuropsicológicas e os primeiros seis meses são fundamentais para uma boa reabilitação", explica João Barroso, diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do CHUSJ, onde todos os dias entram dois a três novos doentes.
Detalhes
Poucas altas para casa
A primeira avaliação é feita no Hospital de S. João e só depois o doente segue para o internamento em Valongo por um período de 30 dias. As altas para casa são reduzidas e na maior parte dos casos o doente segue ou para o Centro de Reabilitação do Norte ou para a unidade de cuidados continuados.
Internamentos
No CHUSJ são internados cerca de 1200 a 1400 doentes com AVC por ano, dos quais cerca de metade são internados na Unidade de AVC.
Seis mil mortos/ano
A nível nacional são internados anualmente nos hospitais públicos entre 23 a 25 mil doentes. Por ano, morrem cerca de seis mil pessoas.