Sacerdote de freguesia de Seia já assumiu dívida e Diocese aceitou acordo de pagamento fracionado.
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Humberto Coelho de 48 anos, pároco na freguesia de Torroselo, Seia, desviou 16 mil euros das contas da Igreja e, por pouco, não deixou a paróquia a zeros. "Sobre esse assunto não falo e estou a cumprir ordens do meu bispo", disse ao JN o padre visado.
A descoberta aconteceu há cerca de um mês, quando já não havia dinheiro para pagar água e luz, e a direção da fábrica da igreja apurou junto da banca o levantamento sucessivo de dinheiro durante meses, quase todo em caixas multibanco, sem qualquer justificação.
Confrontado com o desfalque, o padre foi acusado ao bispo da Diocese que se deslocou à povoação para perceber o sucedido. Apurou o JN que Humberto Coelho assumiu ter sido o autor dos levantamentos, escusando-se, porém, a dar grandes detalhes sobre o motivo do desvio .
Em contrapartida, D. Manuel Felício (que não quis prestar esclarecimentos ao JN) aceitou o pedido do sacerdote para que fosse efetuado um plano de reposição gradual da verba, à razão de 400 euros mensais. A primeira tranche foi paga no final do ano, já depois dos pais do padre terem usado as suas próprias poupanças para ajudar na devolução de parte do dinheiro.
População "indignada"
"As pessoas estão indignadas e há razão para estarem", disse ao JN Joaquim Figueiredo residente na povoação há quase 72 anos. "Foi-lhe dada abertura para movimentar as contas e ele fez o que quis", lamentou. "As missas e outros serviços religiosos são pagos e continuamos sem saber a razão de ter atuado assim", evidenciou o paroquiano cheio de dúvidas. "Disse ao bispo que foi para ajudar um amigo, mas estamos sem saber quem é esse amigo e porque razão precisava de ajuda", sublinhou.
O diretor do lar lde idosos local, Joaquim Pimentel, é mais complacente. " Acha que um padre sem sinais exteriores de riqueza tirava dinheiro sem haver uma razão plausível?", questionou. "Não acredito", reafirmou. "Ele é uma pessoa muito doente, tem uma doença degenerativa [Parkinson] e come todos os dias as refeições que vão do lar", afirmou.
Há quem diga que o bispo "já devia ter esclarecido a população nem que fosse durante a missa" e quem defenda que o padre deveria "autossuspender-se de exercer as funções".