Imagem de Nossa Senhora da Conceição voltou para o nicho da entrada do mercado através da Rua Formosa
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A distância entre o Mercado Temporário do Bolhão que ontem encerrou portas e o imponente e renovado edifício para onde os comerciantes vão voltar na próxima quinta-feira são 230 passos. Os mesmos que Emília Augusto percorreu com a imagem de Nossa Senhora da Conceição ao colo e que voltou ao nicho onde, desde 1968, "abençoa os comerciantes" do Bolhão.
Os vendedores começaram ontem a proceder à mudança para o novo espaço mas deram à sua padroeira a honra de "ser a primeira a regressar a casa". Emília tem 82 anos e é a mais velha vendedora do mercado. Ernestina Barros é mais velha, tem 87, mas encerrou ontem definitivamente a sua Manteigaria do Bolhão. Não vai para o requalificado edifício e por isso Emília subiu na hierarquia.
Foi acompanhada nesta "importante e emotiva missão" por Nuno Fernandes, filho da dona Gina do café e por Augusto Coutinho, dono do ervanário. Nuno levou num pequeno saco as voltas, as gargantilhas, as pulseiras e os anéis de ouro que adornam a imagem, resultante das ofertas de várias décadas das muitas vendedoras que dessa forma agradeceram as bênçãos recebidas. Augusto levava a chave para abrir e fechar a vitrina após a recolocação da padroeira no nicho que agora se encontra não do lado esquerdo mas no direito da entrada do mercado através da Rua Formosa.
"A ideia de ter uma santa no Bolhão partiu do chefe do mercado, que viu que as pessoas eram religiosas e tinham tanta fé, que perguntou se queríamos ter uma imagem no mercado", relembra Emília. Todos reuniram dinheiro e compraram a imagem da Nossa Senhora da Conceição, a que tinha mais devotos. As esmolas nos primeiros anos eram tantas, que o dinheiro acabou por ser usado para ajudar instituições e a adquirir cadeiras de rodas para os necessitados da cidade.