Um dia depois da grande descarga de esgotos que contaminou o rio Selho durante mais de 24 horas, em Guimarães, são várias as vozes de condenação e a pedir um reforço da rede de saneamento em alta, da responsabilidade da Águas do Norte, tutelada pelo Ministério do Ambiente.
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Um eventual reforço da rede, apurou o JN tendo por base empreitadas semelhantes em outras zonas do país, representaria sempre um investimento nunca inferior a três milhões de euros. A bacia do rio Selho tem 25 quilómetros de extensão. Já as multas andam na casa das dezenas de milhar, concretamente nos 24 mil euros, segundo a lei, por cada contraordenação ambiental muito grave.
Como o JN noticiou ontem, a empresa Águas do Norte entende que as infraestruturas existentes no rio Selho "foram corretamente dimensionadas para a área de drenagem servida, não existindo motivos atendíveis que justifiquem a ampliação da capacidade". Entende aquela empresa que o problema está nas ligações particulares, indevidas, das águas pluviais à rede municipal. Ou seja, para a Águas do Norte não é a rede que tem pouca capacidade, mas antes o caudal que é mais elevado do que deveria ser. O que acontece é que sempre que chove há descargas para o rio.
Nos últimos dois meses foram três derrames, como denunciaram os autarcas Daniel Oliveira e Conceição Castro, das juntas de freguesia de Selho São Lourenço e Aldão, respetivamente.
Ontem, na reunião de Câmara de Guimarães, o vereador e presidente do PSD de Guimarães, Bruno Fernandes, reforçou que as estruturas "estão subdimensionadas, obsoletas e não cumprem com a função", exigindo à Câmara uma atitude de condenação da Águas do Norte: "Pode ter 500 brigadas verdes e uma tropa de fiscalização de elite, mas o problema de fundo é dizer à Águas do Norte para tirar este emissário, ou para pôr um tubo de 400 milímetros em vez de um de 200".
Na resposta, Domingos Bragança, presidente da Câmara, disse que "incidentes e acidentes vão continuar a haver", mas não aceita "que sejam recorrentes". O edil do PS assume que é o primeiro a ficar "triste" e "revoltado" sempre que uma descarga acontece, mas assegurou estar a trabalhar com a Águas do Norte para resolver os problemas.
Histórico
Sem multas no Selho
Ao JN, a Águas do Norte informou que, até hoje, recebeu "uma contraordenação" por descargas no rio Selho em Aldão e que mesmo essa não avançou pois "justificou adequadamente a ocorrência" com a afluência de águas da chuva.
GNR autua sempre
Apesar de não ter multas, a Águas do Norte é visada em vários autos de notícia da GNR nos últimos anos por descargas no rio Selho. Quem tem o poder de aplicar a multa é a Agência Portuguesa do Ambiente, depois de receber o auto da GNR.