Projeto "Porto Solar Metropolitano" prevê um investimento de 5,6 milhões de euros. Autarquias e empresas públicas ficam a pagar uma renda ao longo de 12 anos.
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São 79 edifícios, espalhados por nove municípios que, a partir do próximo ano, terão painéis solares nos telhados, num investimento de 5,6 milhões de euros. Contas feitas, autarquias e empresas pouparão, por ano, 720 mil euros, e vão produzir 6,2 gigawatts de energia "limpa" e reduzir em 2250 toneladas as emissões de CO2.
"O investimento será feito por quem ganhar o concurso, que será lançado por um consórcio composto por estes nove municípios - Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo e Vila do Conde -, três empresas municipais - Varzim Lazer (Póvoa), MaiAmbiente e Espaço Municipal (Maia) - e a Lipor", explicou, ao JN, Filipe Araújo, o vice-presidente da Câmara do Porto e presidente da Agência de Energia do Porto (AdEPorto), a gestora do projeto "Porto Solar Metropolitano".
Cada município terá o seu investimento, em função do número de edifícios que incluiu no projeto. Da lista fazem parte escolas, bibliotecas, edifícios de serviços, piscinas, teatros: 17 na Maia (15 da Câmara, um da MaiAmbiente, outro da Espaço Municipal), 14 em Gondomar, nove em Valongo e em Vila do Conde, oito em Matosinhos e na Póvoa de Varzim (seis da Câmara, dois da Varzim Lazer), cinco em Santo Tirso, quatro no Porto, dois na Trofa e três edifícios da Lipor.
Em Vila do Conde, por exemplo, serão as duas piscinas, cinco escolas, o edifício das oficinas municipais e a biblioteca. A Câmara ficará a pagar uma renda de 31 692 euros/ano até 2033, mas, em compensação, poupa - e muito - na conta da luz. Ou seja, durante os 12 anos de amortização do investimento, a poupança é de 12% ao ano (mais 24 mil euros/ano), findo esse prazo passa para 27% (mais de 56 mil euros/ano).
Constituindo um único agrupamento de entidades adjudicantes, municípios, empresas municipais e Lipor ganham escala: maior a dimensão, melhor o preço.
Neste momento, os projetos estão a ser aprovados, localmente, em cada município. Filipe Araújo espera lançar o concurso até ao último trimestre de 2021, a fim de ter o "Porto Solar Metropolitano" no terreno em 2022.
Dar o exemplo
"As cidades são grandes consumidoras de energia, mas também podem ser possíveis - e grandes - produtores. É esta a mudança que queremos fazer", continuou a explicar Filipe Araújo. Os números, diz, falam por si: nas cidades, um terço das emissões de CO2 advém dos transportes e metade é devida ao consumo energético dos edifícios (habitacionais e de serviços). "Há, por isso, um trabalho enorme que tem de ser desenvolvido por cidadãos e empresas rumo à descarbonização e o serviço público tem de estar na dianteira, dando o exemplo", frisa.
No Porto, a "batalha" já começou e Filipe Araújo quer a cidade na linha da frente (ver caixa). Paralelamente, há que, sob o chapéu da AdEPorto, alavancar projetos metropolitanos.
A AdEPorto foi criada, em 2007, pela Câmara do Porto e engloba, atualmente, dez municípios da Área Metropolitana do Porto a norte do Rio Douro. Só Paredes não está no projeto "Porto Solar Metropolitano".
Bairro da Agra do Amial é a primeira comunidade
A criação da primeira Comunidade de Energia Renovável no Bairro da Agra do Amial é a face mais visível do projeto "Asprela + Sustentável". O bairro social portuense, com 181 apartamentos e uma escola, vai ter painéis solares nos telhados para fornecer energia aos edifícios e baterias para armazenar o excedente para, por exemplo, instalar carregadores de veículos elétricos de utilização pública. A poupança pode chegar a uma fatura de eletricidade por ano para cada morador. O "Asprela + Sustentável" será cofinanciado a 70% pelo programa EEA Grants, num investimento de um milhão de euros. O concurso será lançado até ao final do ano.
Se tudo correr bem, diz Filipe Araújo, "o modelo será replicado noutros bairros".
Paralelamente, avança o "Porto Solar" - com 29 edifícios, maioritariamente escolas, num investimento municipal de um milhão de euros, recuperável em seis anos (com a redução da conta da luz), e cujo concurso está já a decorrer - e o "Porto Solar Metropolitano" - com mais quatro edifícios (os teatros Rivoli e Campo Alegre, o Palácio dos Correios e uma escola), a equipar no âmbito do consórcio metropolitano.
O desígnio é ter cada edifício público a produzir o que consume, com possibilidade de armazenar para acudir a "picos", partilhar com a comunidade ou utilizar nos momentos em que a energia é mais cara, e "matar dois coelhos com uma cajadada só": reduzindo as emissões de CO2 e combatendo a pobreza energética.
O Porto já produz 0,5 megawatts para autoconsumo. Até ao final do ano serão 1,5 megawatts e, em 2022, este número pode duplicar.
O município está empenhado em cumprir o compromisso de reduzir em 60% as emissões de CO2 até 2030. Já tem 70% da frota municipal elétrica, a iluminação pública a caminhar exclusivamente para LED, os novos edifícios a serem pensados à luz das melhores práticas e, porque este é um compromisso firme, o Porto orgulha-se de ser "a única cidade do país que só compra energia proveniente de fontes renováveis".