Encarregados de educação de escola de Matosinhos formalizaram queixa à Inspeção Geral da Educação e Ciência. Alegam que crianças são apelidadas de "burras e palermas" e alvo de palmadas
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Os encarregados de educação dos alunos de uma turma do 1.º ano, de uma escola de Matosinhos, acusam a professora de dar palmadas e insultar crianças com 6 e 7 anos. Alegam que, em consequência destas atitudes, os meninos e meninas ficaram com medo de ir para a escola e sofreram alterações comportamentais que as tornaram nervosas e ansiosas. As preocupações dos pais estão resumidas numa queixa enviada à Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC), na qual denunciam, ainda, a ausência de contactos com a docente e com a direção do Agrupamento de Escolas de Matosinhos.
No documento enviado à IGEC, os encarregados de educação lamentam que, desde o início do ano letivo, a comunicação com a docente tenha sido "difícil", levando a uma "deficiente informação quanto a trabalhos de casa, tarefas e materiais para aulas extracurriculares". Depois, descrevem vários episódios em que algumas crianças foram apelidadas de "palermas" e "burras", enquanto outras foram atingidas com "palmadas".
São também contadas situações em que a professora é acusada de espalhar "os livros pelo chão, obrigando a criança a apanhar enquanto a envergonha". "Outras vezes, impede os educandos de recolher o material e obriga-os a olhar para o material/manual enquanto os outros trabalham, sendo que os que deixaram cair o material ficam sem intervalo para recuperar o trabalho que foram impedidos de fazer", lê-se na queixa.
No mesmo documento, a professora é acusada de, sem autorização médica ou dos pais, "duplicar a dose" de um medicamento, ministrado a uma criança durante as aulas.
Aberto processo disciplinar, mas professora continua a dar aulas
Ao JN, a representante dos encarregados de educação, Helena Sousa, refere que foram efetuadas várias tentativas para reunir pais e docente, mas que estas nunca surtiram efeito. Também os apelos realizados junto da Direção do Agrupamento de Escolas de Matosinhos foram infrutíferos, porque os diretores sempre disseram que os problemas teriam de ser resolvidos diretamente com a docente da turma.
Só na última quarta-feira, já após o contacto do JN, é que "a Direção do Agrupamento acedeu receber os representantes da turma". "Deu a conhecer que abriu um processo disciplinar, mas que a professora se mantém a dar aulas. Esta decisão desagrada aos pais, que queriam a professora suspensa", acrescenta Helena Sousa.
Confrontado pelo JN, o Agrupamento de Escolas de Matosinhos afirma, somente, que "tendo tomado conhecimento do denunciado pelos encarregados de educação à IGEC, a diretora do Agrupamento, no cumprimento do seu dever e da descoberta da verdade, irá averiguar o relatado". Não confirma se já tinha conhecimento das queixas parentais, nem se recusou reunir-se com os encarregados de educação.
A Câmara de Matosinhos, com competência sobre os estabelecimentos de ensino básico e que recebeu uma cópia da queixa, optou por "não fazer qualquer comentário pelo tema". E a IGEC não respondeu, até ao fecho desta edição, às questões colocadas.
Testemunhos
"A minha filha foi agredida e chamada de burra e palerma. Ficou com medo de ficar sozinha e deixou de querer ir para a escola. Estou à espera de uma reunião com a Direção e quero que a professora esteja presente"
Andreia Freitas, mãe de aluna com 7 anos
"O meu filho adorava a escola, mas na segunda semana de aulas já não queira ir. Só recentemente é que me disse que a professora ralha com ele, chama-o de morcão e que lhe diz que não sabe nada. A professora chegou a deixá-lo num canto da sala e não o deixava trazer os livros e cadernos para casa"
Ezequiel Freitas, pai de um aluno com 7 anos
"A minha filha não sofreu qualquer abuso, mas estranha as atitudes da professora com os colegas e diz que gostava de ter outra docente. Só esta semana é que a Direção do Agrupamento nos começou a levar a sério. Esta situação preocupa-me e não sei se haverá condições para a professora ficar até final do ano letivo"
Cristina Monteiro, mãe de uma aluna com 6 anos