A implementação do ensino à distância para os alunos da Escola Básica do Campo 24 de Agosto, no Porto, está a preocupar muitos encarregados de educação. Os pais dizem que o acompanhamento prestado aos alunos é "insuficiente", referindo-se ao pouco tempo das aulas online com os professores. "Não duram mais de uma hora por dia", esclarecem. Há quem esteja a ponderar transferir os filhos de escola.
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O diretor do Agrupamento de escolas Alexandre Herculano, Manuel Lima, afirma que a metodologia escolhida deve-se à questão da capacidade de atenção dos alunos e "que até durante os 60 minutos tem de haver pausas porque não conseguem estar atentos o tempo todo".
Os encarregados de educação, que preferiram manter-se em anonimato por receio de represálias, afirmam ter apresentado sugestões, mas lamentam "não haver abertura" para as receber.
"Pensámos que poderiam dividir a turma em dois, até porque, naquele espaço de tempo, é impossível 20 alunos conseguirem participar e sugerimos um acrescento de 30 minutos, numa outra altura do dia, que servisse só para tirar dúvidas", conta uma encarregada de educação de um aluno do 4.º ano.
Manuel Lima assegurou ao JN que as sugestões dos pais serão discutidas num plenário com todos os professores do 1.º ciclo na próxima segunda-feira, dia 15. O docente refere, no entanto, que é preciso não esquecer o peso das diferenças socioeconómicas das famílias: "Temos primeiro de suprir as necessidades das famílias que não têm qualquer tipo de acesso digital".
fichas sem correção
"No ano passado foi péssimo, mas demos o benefício da dúvida para que se pudessem preparar. Porque ninguém estava preparado para isto", diz a mãe de um aluno do 2.º ano. Apesar de reconhecer "melhorias" no ensino à distância em relação ao ano letivo anterior, "uma hora de aula não chega". Até porque, afirma a encarregada de educação, "há meninos que precisam de acompanhamento individual".
"Noto que a minha filha fica facilmente aborrecida e que perde o ritmo de aprendizagem. Por exemplo, numa aula de matemática, aquela hora não deu para resolver mais do que quatro contas", revela.
Outra das mães com quem o JN falou lamentou ainda o facto de a filha ter entrado para o 5.º ano "a saber, de inglês, as cores e contar até dez". "Num ano de transição que é o 4.º ano, de março a junho do ano passado, não houve uma aula síncrona. Havia, sim, o envio de fichas diárias para os alunos fazerem, mas sem correção ou esclarecimento de dúvidas. Achei ingrato forçar os meninos a trabalhar sem feedback", admite.
"Já questionei sobre a possibilidade de haver duas horas de videoaula, mas houve professores que me disseram que não concordavam porque os alunos desconcentram-se", esclarece Manuel Lima.