Casos de bullying na Escola EB1/JI do Lidador, na Maia, preocupam encarregados de educação. Câmara garante que já tomou medidas.
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"Não posso saber que o meu filho é agredido na escola e permitir que a situação continue". As palavras são de Sandra Mendes, 35 anos, e o tom de revolta deve-se às "várias vezes" em que o filho, de seis anos, foi agredido no recreio da EB1/JI do Lidador, na Maia. Segundo os pais, várias crianças têm passado pelo mesmo problema. Por isso, os encarregados de educação criaram o "Movimento Patrulha Recreio". Todos os intervalos, do lado de fora da escola, são os pais e os avós que zelam pela segurança das crianças. A Câmara da Maia confirmou ter conhecimento da situação e afirmou que o caso tem sido debatido com a vereadora da Educação, Emília Santos.
Naquele estabelecimento funcionam jardim de infância e 1.º Ciclo. E, segundo os pais, "há casos de meninos da "pré" que são agredidos pelos mais velhos". Foi o que aconteceu, no ano passado, com o filho de Sandra, que voltou a ser agredido neste ano, no primeiro dia de aulas. "Levou um soco ao entrar para a casa de banho e desde aí não consegue ir à casa de banho sozinho", relatou, indignada com a ausência de medidas dos responsáveis da escola.
175 crianças são, segundo os pais, supervisionadas por "um escasso número de funcionárias" durante os intervalos. Por isso, exigem reforço de vigilância
"Se não têm funcionários que cheguem para supervisionar todas as crianças, alguém tem de agir. Duas funcionárias não conseguem garantir a segurança de tantos alunos no recreio", denunciou a mãe, garantindo que apresentou queixa na GNR. "A EB1/JI do Lidador está dotada do número de assistentes operacionais que ultrapassa o rácio definido", contrapõe a Câmara Municipal.
Crianças sentem medo
Segundo os pais, só desde o início deste ano letivo já se registaram quatro incidentes. "O meu neto tem sete anos e foi agredido duas vezes no mês passado", contou Albina Neves, 70 anos, que passou a ser presença assídua à porta da escola. "Não me sinto segura, porque a escola não é capaz de cuidar das crianças", lamentou, acrescentando que os alunos "têm medo" e que já viu "um menino levar uma cabeçada, quando não estava ninguém para o ajudar".
Além disso, denuncia que as situações acontecem, por vezes, no horário de saída das crianças. "Elas ficam sozinhas no portão à espera da carrinha do centro de estudos e isso também nos preocupa", completou a avó, que se habituou às idas ao recreio: "Estou quase sempre cá". Joana Barbosa, 34 anos, diz que o problema não é recente. "No final do último ano letivo, o meu filho foi agredido e eu apresentei queixa ao agrupamento. Fizeram-se reuniões e mais reuniões, mas continua tudo igual", disse, adiantando que depois disso o filho "nem à porta da escola conseguia passar".
Contactados pelo JN, a escola e o Agrupamento Dr. Vieira de Carvalho, ao qual pertence o estabelecimento, não responderam.
RESPOSTA DA CÂMARA
A Câmara da Maia confirmou ter conhecimento de uma agressão no dia 17 do último mês, tendo sido "convocada, de imediato, uma reunião na escola, para analisar o facto e preparar um plano de intervenção". Um encontro que, segundo a Autarquia, contou com a presença dos responsáveis pela escola e pelo agrupamento. Entre as medidas tomadas, procedeu-se à "chamada dos pais do menino agressor à escola" e ao "reforço da vigilância nos recreios", tendo sido aplicadas "medidas disciplinares por parte do agrupamento" e "efetuada a comunicação à família".
DADOS
Bullying afeta 38% dos adolescentes
De acordo com o relatório "Uma lição diária: Pôr fim à violência nas escolas", lançado pela Unicef no mês passado, em Portugal 38% dos adolescentes com idades entre os 13 e os 15 anos reportaram ter sofrido bullying nas escolas nos meses anteriores.
Mais de quatro mil ocorrências em 2016
Em 2016, a Escola Segura registou 4102 ocorrências criminais e 2761 ocorrências não criminais nas escolas portuguesas.
Números reduziram no ano passado
Segundo a Escola Segura, a violência nas escolas diminui no último ano letivo. Foram registadas menos 380 ocorrências criminais e menos 110 não criminais.