Os pais das crianças que frequentam o jardim infantil e o ATL do Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento, no Porto, estão revoltados com o anúncio do encerramento das duas valências em julho. Na manhã desta sexta-feira, concentraram-se em frente à Segurança Social, que recebeu o responsável pela paróquia.
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A reunião estava agendada para as 10 horas, mas o padre Joaquim Santos só compareceu já perto das 11.30. Nessa altura, os pais fizeram silêncio, exibindo apenas os cartazes em que defendem a manutenção dos serviços. À entrada, o pároco repetiu aos jornalistas o que tem vindo a dizer, ou seja, que o fecho se deve a "razões económicas" e que a ideia de os pais ajudarem com donativos não é viável. Até esse momento, antes da reunião com a Segurança Social, manteve a convicção de que o fecho é inevitável.
Para o início da tarde desta sexta-feira está marcada uma reunião entre o pároco e os pais. Segundo André Serra, encarregado de educação, este agendamento surgiu na sequência da carta que entregou na diocese, ontem, solicitando uma reunião com o bispo. Foi-lhe comunicado que primeiro seria melhor os pais falarem com Joaquim Santos, o que deverá acontecer a partir das 14.30 horas.
Um dos pedidos que os pais fazem é que, pelo menos, a paróquia mantenha o jardim infantil e o ATL por mais um ano letivo, uma vez que só foram avisados do encerramento na passada segunda-feira e não têm forma, em cima da hora, de matricular os meninos noutras instituições. Não só porque já passou o período de inscrições, mas também porque não encontram vagas, segundo dizem. Joaquim Santos reafirmou a disponibilidade em "auxiliar os pais a encontrar soluções".
"As crianças aprendem brincando e brincando elas são felizes no Santíssimo Sacramento", lia-se num dos cartazes. Alguns encarregados de educação temem perder os empregos, por não terem onde deixar os filhos no início do ano letivo. E há, entre os alunos, meninos com necessidades educativas especiais.
É o caso, por exemplo, do filho de Cristina Almeida, doente neuromuscular que está confinado a uma cadeira de rodas. A mãe não teme que ele tenha dificuldades em adaptar-se a outra escola, teme é o contrário, pois no Santíssimo Sacramento as técnicas são incansáveis. "Sobem e descem as escadas com o meu filho ao colo e isso não tem preço", disse, para logo acrescentar: "Eu entregava o meu filho de olhos fechados a estas pessoas".
Alexandra, mãe solteira de uma menina de seis anos que frequenta o jardim infantil desde os três, não tem qualquer apoio familiar. Inscreveu a filha no ATL para o próximo ano letivo (uma vez que a criança já vai para o 1.º ciclo), mas não sabe o que vai ser da sua vida. Teme perder o emprego, pois, apesar de trabalhar a partir de casa, as suas tarefas são desempenhadas ao telefone e o ambiente tem de ser de absoluto sossego. Não pode estar a trabalhar e a tomar conta da filha. "Não sei o que vou fazer", disse ao JN.
Uma outra mãe dizia que "há muita coisa mal contada" neste processo de encerramento, mas tinha a expectativa de que a paróquia mantenha as valências abertas por mais um ano. "Ninguém nos disse que havia um buraco financeiro", garantia, por seu turno, Cristina Almeida, acrescentando que "a Segurança Social é que vai perder" com o fecho, porque, se os pais tiveram de deixar de trabalhar para tomar conta dos filhos, vão passar a receber subsídio de desemprego.
Ao JN, o padre Joaquim Santos tem dito que não chegariam 400 mil euros "para pôr a instituição em ordem". As dificuldades financeiras foram-se agravando ao longo dos anos e, segundo afirma, o aumento de oferta no ensino público tem feito diminuir o número de inscrições nas valências do Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento.
Na segunda-feira, os encarregados vão ter uma reunião com a Câmara do Porto.