Muitos dos primeiros sintomas de enxaquecas chegam com a primeira menstruação, mas pode ir muito para lá deste momento inicial. Numa altura em que se assinala o dia Europeu de Sensibilização para a Enxaqueca, a 12 de setembro, especialista traça correlações entre estas dores de cabeça incapacitantes e o ciclo menstrual
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Os números são, já de si, uma verdadeira dor de cabeça. Estima-se que uma em cada cinco mulheres sofra de enxaquecas, ou seja, quatro vezes mais do que quando comparadas com os homens. E se a prevalência não fosse fator de alerta, a duração dos episódios faz levantar preocupações: quase oito em cada dez doentes (79%) "têm crises com duração superior a quatro dias por mês", "14% vivem mais de metade do mês com dor e 5% sofrem-na diariamente", refere fonte oficial da MiGRA - Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias.
À propósito do dia Europeu de Sensibilização para a Enxaqueca, que se assinala a 12 de setembro, a gestora executiva da entidade explica as razões que fazem com que as enxaquecas - ainda "incompreendidas e subdiagnosticadas" - estejam tão presentes na vida das mulheres e como tudo isso se relaciona com a menstruação.
Bruna Santos explica, em conversa por escrito com a Delas.pt, que, "no caso das raparigas, os primeiros sinais e sintomas surgem normalmente com a primeira menstruação, mas podem surgir em qualquer altura da vida", começando "alguns dias antes da menstruação e podendo durar até alguns dias após o seu início". Contudo, não acabam aqui.
"Para algumas mulheres que vivem com enxaqueca, existe uma relação entre o ciclo menstrual e a própria doença, falamos da enxaqueca menstrual", refere a responsável. "No caso da menopausa, no período de transição, muitas pessoas relatam que a sua enxaqueca piorou, tendo crises mais intensas e regulares - o que poderá dever-se também às grandes oscilações hormonais desta fase e aos sintomas da menopausa - como afrontamentos e suores noturnos - que provocam alterações nas rotinas de sono e aumentam os níveis de stress", acrescenta Bruna Santos, revelando que, "após a menopausa, com os níveis hormonais e os sintomas mais estáveis, muitas mulheres melhoram ou deixam mesmo de ter crises de enxaqueca". Contudo, como refere a gestora executiva, "nem sempre é assim".
A doença pode manifestar-se de diferentes formas, existem várias tipologias que diferem quanto às características e origem e a genética pode ter também uma palavra a dizer: "Este é um dos fatores que poderá influenciar o aparecimento das enxaquecas" uma vez que "afeta várias pessoas da mesma família, de geração em geração", sublinha Bruna Santos.
Trata-se de doença incapacitante, que afeta sobretudo as pessoas em idade ativa, com especial prevalência entre os 30 e os 39 anos, como avança a MiGRA em comunicado. Para a responsável da associação, é um impacto ainda mais preocupante uma vez que "se reflete sobretudo no período de vida em que a pessoa constrói a sua família e se desenvolve a nível profissional, pelo que não é fácil lidar com as crises de enxaqueca e com todas as responsabilidades a cargo".
A associação alerta para a necessidade de "procurar ajuda especializada se notar que a dor de cabeça - habitualmente num dos lados - for acompanhada de náuseas e vómitos e sensibilidade à luz, som e odores", recomenda Bruna Santos.