Construído "poço" temporário em frente à Estação de S. Bento para alterar percurso da água e permitir obra da Linha Rosa. Município questiona se o bloqueio foi a causa da enxurrada.
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Há duas dúvidas sobre o que terá provocado uma enxurrada nunca vista na Baixa do Porto. Ambas estão relacionadas com o "poço" temporário, construído pela Metro do Porto, na Praça de Almeida Garrett, em frente à Estação de S. Bento, para desviar o rio da Vila durante a obra de construção da Linha Rosa. Uma das incertezas é se, tendo sido a estrutura nova construída de acordo com o projeto, não terá capacidade suficiente para albergar tanta água perante uma situação extrema; outra é se, porventura, foi mal construída.
O principal objetivo do "poço" é conduzir o rio da Vila até à Ribeira, mantendo o local onde desagua, mas chegando lá por outro caminho. E, para isso, um dos fluxos do rio - junto a essa nova estrutura -, foi parcialmente (e intencionalmente) bloqueado por uma parede em betão. Ou seja, no caso de o nível da água subir até esse bloqueio, deveria seguir o seu curso por uma das outras galerias já existentes há mais de 150 anos. Se isso terá, ou não, acontecido, será o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a avaliar.
De qualquer forma, estando a dúvida no ar sobre o papel que essa parede terá tido na enxurrada de sábado - e perante o aviso laranja de domingo -, decidiu retirar-se o betão para evitar uma nova tormenta. Certo é que, quando estiver pronto o novo túnel de 536 metros de extensão e seis de diâmetro que está a ser construído para albergar o rio da Vila definitivamente, este "poço" será removido.
Estas explicações foram dadas ao JN por uma equipa da Águas e Energia do Porto: Rita Cunha, coordenadora da área das praias, ribeiras e ambiente; Luís Lopes, gestor de contrato de empreendimentos; e Rúben Fernandes, administrador da empresa municipal.
"Algo se passou"
"Constatamos que, de facto, nunca tivemos nenhum problema de drenagem do rio. Há cerca de 150 anos que escoa livremente. Em Mouzinho da Silveira há a confluência de quatro efluentes principais do rio e não havia qualquer tipo de registo que ele pudesse ter saído à superfície e escoado livremente pelos arruamentos. Algo se passou e tivemos de avaliar, com risco de poder suceder o mesmo no dia seguinte", clarifica Rita Cunha. A coordenadora acrescenta, ao JN, que, "de imediato", a equipa tentou perceber, indo mesmo ao subsolo, "o que poderia estar a acontecer".
"A nossa preocupação era garantir que não havia nenhum aluimento, nenhuma situação que pudesse estar a comprometer e a barrar o livre escoamento desta massa de água. Identificámos, de facto, uma infraestrutura nova. Neste momento estamos a avaliar e a estudar se pode ter sido ela o motivo da obstrução, mas que bate certo com a zona onde começámos a ter problemas", admite. Ou seja, a Águas e Energia do Porto notou que nas áreas pluviais localizadas antes da estrutura temporária os canais teriam estado "sobrecarregados" e, abaixo dela, a água escoou livremente.
"Está a ser feito um estudo muito fino para perceber as causas efetivas dessa situação", conclui.