José Moreno e outros moradores elogiam transformação da parte oriental.
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Quando José Moreno foi viver para o Parque das Nações, antes da inauguração da Expo"98, trabalhava-se dia e noite para estar tudo pronto a tempo do evento mundial. "A minha casa ainda estava em obras, estivemos aqui um pouco acampados. Fui o único a vir antes da abertura da exposição. E quando as delegações do evento foram embora, também ainda era o único aqui. Só se via a nossa luzinha e, aos poucos, foram aparecendo mais, como pirilampos", recorda o primeiro morador do Parque das Nações e ex-presidente da nova Junta que viria a ser criada.
Mercearia após dois anos
Moreno tinha de levar o lixo a Moscavide porque ali ainda não havia contentores, nem a maioria dos serviços. "Não tínhamos minimercado, não tínhamos nada", conta. Teve de esperar dois anos, depois do fim da exposição, pela abertura da primeira mercearia do Parque das Nações. Rosa Coelho, que trabalhava na Portela, arriscou abrir negócio onde quase não havia ninguém. "Não foi fácil no início, mas hoje tenho clientes de todo o lado. Vem cá a Graça Freitas e o Moita Flores", conta a dona da mercearia Pomar da Rosa.
Rosária Lopes, 76 anos, uma das clientes mais antigas, não acreditava que aquela "zona feia" de Lisboa se transformasse no que é hoje. "Era um deserto e agora está cheia de vida. Quando passava de comboio, esta parte da cidade era uma imundice, com lixo. O que se fez aqui foi uma ideia genial", elogia a moradora.
Carlos Maciel, residente, também vê com otimismo as mudanças, mas considera que a zona "cresceu demais". "E continua", observa José Moreno. "Estão a construir uns prédios junto à Ponte Vasco da Gama, que vão ter impacto nas vistas".
Lucília Santos, ali a vender flores desde o fim da exposição, lembra com nostalgia aqueles anos. "Todos os dias via uma nova janela aberta, um novo morador. Tenho saudades", partilha.
Numa cidade que, durante décadas, esteve de costas voltadas para o rio, hoje veem-se milhares de pessoas a passear, como Cátia Santos, professora deslocada de Viana do Castelo, que aproveita a hora de almoço junto ao Tejo. "Lembro-me de tomar banho nas piscinas dos vulcões de água. Foi a primeira vez que vim a Lisboa", recorda.
José Teixeira, 60 anos, também estava a dar a caminhada habitual. "Trabalho aqui há 30 anos. Na altura, só tínhamos dois autocarros, era o fim do Mundo. Hoje, é a alma de Lisboa. Há cinco anos vim para cá morar", conta José, que não esquece o evento que parou o país. "Demoramos horas a chegar ao encerramento. Eram milhares de pessoas e os telemóveis bloquearam."
Dados
500 anos
A Exposição Mundial de Lisboa dedicada ao tema "Os oceanos, um património para o futuro" celebrou os 500 anos dos descobrimentos portugueses. Abriu as portas a 22 de maio de 1998.
Homenagem
A Câmara de Lisboa atribuiu, esta semana, o nome de António Mega Ferreira, que idealizou a Expo"98, ao troço da Rua da Centieira, uma proposta da Junta de Freguesia do Parque das Nações.
Miradouro
Depois de quase 20 anos fechado, o miradouro da Torre Vasco da Gama reabriu. A torre foi construída há 25 anos, no âmbito da Expo"98. É um dos edifícios mais altos do país, com 145 metros de altura.
Pavilhão Portugal
Todos os edifícios da Expo"98 continuaram a ter utilidade pública após o evento, à exceção do Pavilhão de Portugal. A obra de Siza Vieira, que custou 23 milhões de euros, está abandonada.
Famosos
Passaram pelo recinto da Expo o rei Juan Carlos e a rainha Sofia, o príncipe Aga Khan e o príncipe herdeiro de Marrocos, várias figuras políticas de todo o Mundo, como Bill Gates, magnata da Microsoft, e o músico Ringo Starr, baterista dos Beatles.