Equipamento preocupa os autarcas, que temem redução da zona de pesca. Porto alerta para impacto visual e ruído.
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Vai ter o equivalente à área de 11 cidades do Porto. O parque eólico de Leixões, que vai ser construído a 30 quilómetros da costa de quatro concelhos (Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Matosinhos e Vila Nova de Gaia), está a preocupar os autarcas da região, que se vão reunir para tomarem uma "posição conjunta de força". Temem que o equipamento venha a diminuir a zona de pesca. O Governo diz, contudo, que vai ser possível conciliar as duas atividades.
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Está previsto que as "ventoinhas gigantes" de Leixões ocupem 463 km2. Serão colocadas ao largo dos concelhos da Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Matosinhos e "terão um impacto significativo, se não salvaguardamos a exploração piscatória", alerta o autarca da Póvoa do Varzim, Aires Pereira, que representa a Área Metropolitana do Porto (AMP) na comissão consultiva (ler ficha).
Em Gaia, o parque eólico será instalado a três quilómetros da costa, do lado oposto à cidade do Porto. Por isso, o equipamento está a preocupar as duas cidades. "O município de Gaia está a estudar a proposta, tendo já manifestado à tutela sérias preocupações com o projeto", adiantou, ao JN, a autarquia de Eduardo Vítor Rodrigues, que está a "promover uma auscultação alargada com as entidades envolvidas para garantir a melhor posição institucional do município".
Impactos na Foz Velha
A Câmara do Porto participou na fase da consulta e emitiu um parecer negativo, por considerar que "a localização das torres eólicas, a cerca de três quilómetros da linha da costa da cidade do Porto, em frente ao Conjunto Classificado de Interesse Público da Foz Velha, terá um forte impacto visual e paisagístico que interferirá com a integridade patrimonial deste conjunto e da relação que este estabelece com a paisagem que o conforma".
"De referir, ainda, que dada a proximidade à linha de costa dos referidos equipamentos, estes irão impactar negativamente com a leitura do molhe e respetivo farolim da barra do Douro. Por outro lado, o ruído e as vibrações, que poderão ser causadas pelo funcionamento das turbinas, serão ouvidos na frente urbana, atendendo à curta distância, causando perturbação para os moradores", teme a autarquia de Rui Moreira.
Estudo de Matosinhos
"Estamos a analisar o impacto, juntamente com os municípios de Matosinhos e da Póvoa de Varzim", diz a vice-presidente da Câmara de Vila do Conde, Sara Lobão. Também a autarquia de Matosinhos prefere não se pronunciar, para já, apesar de ter encomendado um estudo que vai servir de base a uma reunião entre os autarcas dos territórios afetados. "A Câmara de Matosinhos irá participar na reunião da AMP e só depois se pronunciará sobre o equipamento", refere a autarquia de Luísa Salgueiro.
Essa reunião foi sugerida por Aires Pereira. "Temos que tomar uma posição conjunta, com forma política. Uma posição que não coloque em causa o interesse nacional, devido à necessidade de termos energia eólica, mas que também não ponha em causa a exploração piscatória", pede o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim.
Secretaria de Estado diz que vai ser possível pescar
A Secretaria de Estado das Pescas garantiu, ao JN, que o parque eólico de Leixões não vai interferir com a pesca. "Têm estado a decorrer reuniões com as associações de pesca, de forma a minimizar os impactos nas atividades de pesca", revela o gabinete de Teresa Coelho. A Secretaria de Estado assegurou que, tal como reivindicam os autarcas, vai ser possível pescar dentro dos parques eólicos: "A Direção-Geral dos Recursos Naturais e Serviços Marítimos, organismo com a responsabilidade de elaborar o plano de desafetação, está a trabalhar para permitir que as artes de pesca compatíveis sejam permitidas dentro do parque". Já o Ministério do Ambiente recusou fazer comentários.
Pormenores
Cinco áreas
Foram cinco as áreas que estiveram em consulta pública de 30 de janeiro a 10 de março para a instalação de 10 gigawatts de parques eólicos no mar: Viana do Castelo, Leixões, Figueira da Foz, Ericeira-Cascais e Sines. No total, os parques ocupam cerca de 320 mil hectares, o equivalente a 320 mil campos de futebol ou o território dos Açores e da Madeira.
Leilão este ano
As cinco áreas foram propostas por um grupo de trabalho, criado pelo Governo, para preparar o primeiro leilão português de eólicas offshore, que deverá ocorrer no final do ano.
Comissão consultiva
Os equipamentos estão a ser estudados por uma comissão consultiva, que se reúne pela segunda vez a 19 de julho e terá que emitir um parecer até ao final do próximo mês.