Objetivo será transformar resto de bouça com caminhos de pé posto utilizados por moradores dos bairros do Falcão, Cerco e Lagarteiro, que foram chamados a participar no projeto.
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Coser o que está fragmentado é o objetivo do projeto da zona verde desenhada para a zona oriental do Porto. Uma área encravada entre grandes infraestruturas viárias, como a VCI, a A43, a linha ferroviária, bairros sociais e composta por mato, bouça e caminhos de pé posto que os moradores do local utilizam para encurtar distâncias. A população foi chamada a participar na criação do Parque da Alameda de Cartes, financiado por um projeto europeu denominado URBiNAT.
Isabel Branca desce em direção à urbanização do Falcão, em Campanhã, por um caminho em terra batida, entre altos eucaliptos, quase escorrega numa pedra solta. "Isto sempre esteve assim e sempre foi utilizado pelas pessoas para encurtar caminho, mas de inverno não se pode passar. É só água e lama a escorrer por aí abaixo", explica a moradora.
Os caminhos unem a Rua do Falcão e artérias adjacentes à Alameda de Cartes e à Avenida Cidade de Léon, sendo atravessados diariamente por centenas de pessoas.
"Transformar isto numa zona de lazer seria bom para os moradores passarem aqui o tempo e a crianças poderem brincar em segurança", diz Rosa Maria Dias que, com a neta ao colo, segue o caminho contrário ao de Isabel. "Assim como está só atrai marginalidade. Pessoas que se drogam nestas antigas ruínas e outras que às vezes andam nuas pelo pinhal", acrescenta a moradora.
Trata-se de um território que, como explicou ainda recentemente na autarquia um dos responsáveis, o arquiteto José Miguel Lameiras, acabou vítima do desenvolvimento e das "muralhas do século XX que acabam por gerar esta distância física, mas também esta distância psicológica".
Corredores inclusivos
O parque vai implementar novos corredores saudáveis e assegurar a inclusão dos bairros do Cerco, Falcão, Lagarteiro e outros bairros de habitação social próximos. Incorporará a Horta da Oliveira, projeto de proximidade desenvolvido pela autarquia e pela Lipor, e um terreno que entretanto reverteu para a autarquia e que há anos havia sido cedido aos Bombeiros Voluntários do Porto para ali construírem o seu novo quartel
Junto ao cemitério de Campanhã, será construído um tanatório e a área verde prossegue em cascata, absorvendo as ruínas em pedra que serão valorizadas. O objetivo é fazer deste corredor verde, que integrará uma escola (Falcão), a piscina de Cartes e um campo de jogos (Complexo Desportivo de Campanhã), uma ligação entre a Praça da Corujeira, cuja requalificação integra o projeto estruturante do antigo matadouro, e o Parque Oriental.
"Acho que as entidades devem começar a olhar mais para esta zona. É preciso pensar nas pessoas que têm carências aos mais diversos níveis, como transportes públicos", explica Delfina Rosa Almeida. Serão mantidas as zonas verdes com espécies autóctones e criadas passagens seguras, de piso tratado sobre declives menos acentuados. A área de intervenção é cerca quatro hectares, as obras arrancam dentro de um ano e vão custar 1,4 milhões de euros.