Máquina que trabalha na construção dos futuros armazéns de pesca em Vila do Conde provoca estragos em dezenas de habitações. Empresa promete pagar aos moradores.
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O chão estremece, as casas abanam, as rachadelas acumulam-se em tetos e paredes. "A casa vai cair, não vai?", pergunta Ana, deitada na cama. Há mês e meio que, aos 89 anos, vive com o coração nas mãos. O filho, Francisco, diz-lhe que não. Vira-a na cama, ajeita-lhe os cobertores, faz-lhe uma festa. À saída do quarto, abana a cabeça. "É isto todos os dias", diz. A idosa tem medo. Francisco não lhe diz, mas também tem.
Do outro lado da rua, na Avenida Infante D. Henrique, na Poça da Barca, Vila do Conde, há uma máquina com mais de 20 metros a perfurar o chão. É a obra dos futuros armazéns de pesca da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar (APMSHM). A empresa - a Atlântinível - promete pagar os estragos, mas os moradores querem garantias. "É um barulho que parece um terramoto! O chão treme, as garrafas batem umas nas outras e até os bibelots caem das prateleiras!", explica Alice Santos.
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Sandra Silva tem a casa "cheia de fissuras" e "até um pedaço da varanda já caiu". A filha, de três anos, "tem medo do chão que treme". Nas casas de Sandra, de Alice, de Francisco e de mais duas dezenas de moradores a Atlântinível fez o registo fotográfico antes do arranque da obra. Sandra já os chamou para verem os estragos. "Disseram que se responsabilizavam e ficou combinado que vinham no fim da obra", conta a jovem. José Postiga quer garantias e "documentos escritos, não há".
O marido de Alice "foge" para a praia, a mulher de José Postiga, depois da hemodiálise, vai descansar para casa da mãe. Francisco lamenta não poder levar a mãe dali.
"Esta coisa está a prejudicar-nos de forma injustificada. Havia equipamentos mais avançados para fazer este trabalho", garante Joaquim Rodrigues, advogado reformado, que também já não aguenta mais o barulho e a vibração.
Pró-Maior dá garantias
Contactada pelo JN, a APMSHM diz ter a garantia da Atlântinível de que "todos os estragos que tenham surgido depois do início da obra serão reparados" e promete assegurar-se de que "tudo é cumprido".
A obra dos novos armazéns já conta um atraso de oito meses. Com as escavações, o terreno - arenoso - começou a ceder, ameaçando trazer a marginal a rasto. Foi preciso fazer a contenção de todo o muro. A máquina em causa já colocou centenas de estacas de 12 metros de profundidade. Estará a terminar.