Autarquia portuense possui reserva museológica onde é feito o estudo, documentação, inventariação e restauro das peças que alimentam as várias estações do Museu da Cidade.
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Mobiliário, têxteis, tapeçaria, pintura, gravura, desenho, metais, gessos, marfim, cerâmica, olaria, vidros, papel, livros, fotografia, equipamento fotográfico, isogravuras, etnografia, cestaria e luminária. São mais de 20 mil as peças depositadas na reserva museológica da Câmara do Porto, em Ramalde, e que são ativadas pelas exposições das várias estações do Museu da Cidade.
A grande estrela do acervo é o violoncelo de Guilhermina Suggia. Mas neste "pequeno tesouro" há pinturas de Aurélia de Sousa e peças da colecionadora e mecenas portuense Marta Ortigão Sampaio ou do pintor e conservador de arte Vitorino Ribeiro.
Na reserva situada em Ramalde (existe outra em Paranhos) faz-se a triagem do conteúdo dos caixotes que ali chegam fruto de doações (como a do poeta Eugénio de Andrade), de legados (como o da Casa Marta Ortigão Sampaio ou da Casa de Guerra Junqueiro) e muitas compras feitas pela Câmara.
O acervo contempla ainda peças que estão em depósito e que pertencem à Autarquia e que estão no "Soares dos Reis" e as que integram as coleções das estações do Museu da Cidade, como a do Romantismo, a do Douro, da Casa Marta Ortigão Sampaio, da Casa Guerra Junqueiro, do ateliê António Carneiro, da Casa de S. Roque, da casa de Eugénio de Andrade. "As reservas são muito importantes para o Museu da Cidade. Criamos um grupo de gestão da coleção e sistematizámos o inventário e os procedimentos que têm a ver com a conservação e restauro. Contratámos pessoas e em dois anos e meio este trabalho invisível é uma grande parte da vida das estações do museu", explica o diretor artístico Nuno Faria.
cautela e paciência
Na reserva impera o silêncio. As peças de uma antiga cascata sanjoanina são cuidadosamente acondicionadas num arquivo. Uma peça de vestuário com quase 200 anos é limpa com escovas e aspirador próprios. As porcelanas são lavadas com emulsão adequada. Os móveis e molduras recém-chegados estão em quarentena e a ser tratados na sala de anoxia (desinfestação e tratamento atóxico), para não contaminar as coleções com térmitas e caruncho.
"A reserva perpetua os fragmentos e a memória da cidade do Porto. O que não está à vista está no seu espaço de reservas, o que até é fundamental para a conservação e segurança dos objetos porque o estarem permanentemente expostos, com o contacto de público e iluminação, cria desgaste. Ter tudo em exposição durante 50 anos já não é uma metodologia viável para os museus", diz Mariana Jacob Teixeira, chefe da Divisão Municipal de Museus para quem "a circulação é benéfica para os públicos e para a preservação".
O acervo museológico integra peças depositadas desde a década de 1970 e uma boa parte vai transitar, no início de 2023, para o Abrigo dos Pequeninos, nas Fontainhas. "O objetivo é ter cada vez menos uma reserva como depósito morto mas de paragem temporária para a peça ser apreciada", diz Maria Aguiar, consultora do Centro de Conservação e Restauro da Universidade Católica Portuguesa para o projeto Abrigo dos Pequeninos. Até lá, em Ramalde prosseguirão os trabalhos de estudo, documentação, inventariação e restauro.
SAIBA MAIS
Museu da Indústria
A sofrer obras de adaptação estão já os antigos armazéns industriais onde estavam instaladas as oficinas da EDP, em Campanhã, sob a Ponte do Freixo, para acolher uma estação do Museu da Cidade, desta vez dedicada à Indústria do Porto.
No ex-CACE
A reabilitação do espaço onde funcionou o CACE Cultural pertence ao arquiteto Guilherme Machado Vaz e ali ficarão as peças que se encontram na reserva de Ramalde, proveniente do Museu da Indústria que funcionou na antiga Fábrica de Moagens Harmonia e que, com o Palácio do Freixo, acolhem uma pousada de luxo.