Relatório técnico relata "deformação da estrutura de betão armado", fissuras e esmagamento de tijolos.
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Uma piscina construída sem licença no terraço do lote 4 da Avenida Adelino Amaro da Costa, em Leiria, está em risco de colapsar. O relatório técnico, a que o JN teve acesso, identifica os danos provocados nas garagens e nos quatro andares do edifício, em consequência da "deformação da estrutura de betão armado", que provocou o esmagamento de tijolos, fissuras nas paredes, falta de coesão dos revestimentos e infiltrações. O lote 5 também foi afetado.
"No que se refere à piscina instalada na cobertura do edifício do lote 4, e face à sobrecarga pontual elevada que está a ser aplicada sobre a laje fungiforme, corre-se o risco de poder desencadear o mecanismo de punçoamento [colapso local associado a uma rotura frágil, e praticamente sem aviso] e provocar o colapso da estrutura", refere o relatório técnico, solicitado pelos condóminos, datado de abril.
"Tragédia irreparável"
Determinado a resolver o problema, face ao agravamento dos sinais de "deterioração do edifício" nos últimos anos e ao receio de que uma "tragédia irreparável" pudesse acontecer, Ricardo Vieira, morador no lote 4, intensificou os contactos com a Autarquia, iniciados em janeiro. Apesar de ter enviado 14 emails sem obter resposta, não desistiu até conseguir que o prédio fosse alvo de vistoria. "Em maio, o Município deu a indicação para desmantelar todas as infraestruturas ilegais", conta.
O morador insistiu, contudo, para que a prioridade fosse esvaziar a piscina, pois só a água pesava cerca de 40 toneladas, operação que decorreu na segunda-feira. Quando se deslocou ao local, constatou, no entanto, que ainda continha água. "Se a piscina tem seis metros de comprimento e três metros de largura e 35 centímetros de água no fundo, ainda tinha cinco a seis toneladas de água. Fora a estrutura de betão e o peso do aço", justifica. Razão pela qual continua a manter contactos com a Autarquia.
"Na sequência de queixa apresentada, foi efetuada uma vistoria ao local, tendo sido identificadas diversas patologias, bem como obras executadas em desacordo com o projeto aprovado, onde se inclui uma piscina na cobertura", confirma o Município. Notificou, por isso, a administração do condomínio para "proceder à reparação das referidas patologias, tendo sido também notificada a proprietária da fração", a quem, mais tarde, deu ainda indicação para proceder ao "esvaziamento imediato da piscina, dado que poderia encontrar-se em causa a segurança de pessoas e bens".
O JN tentou contactar a proprietária da piscina, sem sucesso. A empresa que gere o condomínio não quis prestar declarações.
Construção
Projeto só admitia estruturas "amovíveis"
"No projeto estrutural ficou prevista a possibilidade de os terraços levarem piscinas em alguns locais", revela ao JN Pedro Santos, presidente do conselho de administração da Creinvest-Investimentos Imobiliários, que vendeu os apartamentos. No entanto, esclarece que, apesar de ter havido um "reforço estrutural para poder suportar o peso adicional", as piscinas a que se refere são "amovíveis" e levam "pouca água". Garante ainda que "os apartamentos foram vendidos sem piscinas", pelo que a responsabilidade deve ser imputada a quem a construiu.
A saber
145 mil euros
A reparação dos danos causados no prédio ascende a 145 mil euros, revela ao JN Ricardo Vieira. O orçamento foi estimado com base no relatório técnico.
Rui Patrício afetado
Situados no lote 3, os dois apartamentos de Rui Patrício, guarda-redes da seleção nacional de futebol, também foram afetados, assegura Ricardo Vieira. "Chove na casa de banho dele, tal como na minha".