Travessia entre Porto e Gaia projetada por Gustave Eiffel faz hoje 145 anos mas continuam a faltar ideias e projetos para a sua condigna reutilização.
Corpo do artigo
Construída há 145 anos e sem utilização há 31, a Ponte de Maria Pia, entre Porto e Gaia, continua sem qualquer serventia e sem qualquer projeto com vista à sua reutilização. A Infraestruturas de Portugal (IP) e as câmaras do Porto e Gaia por mais do que uma vez já se reuniram para encontrarem uma solução que tarda em aparecer, estando o monumento nacional, projetado por Gustave Eiffel, e numa altura em que se avançam com novas travessias a unir as duas margens do Douro, "completamente esquecido".
Foi no dia 4 de novembro de 1877 que Porto e Gaia ficaram unidas pela primeira travessia que entrava ao serviço dos caminhos de ferro. "Apesar da Torre dos Clérigos sobressair na paisagem da cidade, a Ponte de Maria Pia é o monumento mais icónico que temos porque é a primeira obra do Eiffel de aproveitamento do ferro. Só depois surgiram a ponte gémea em Garabit e a torre de Paris. Podemos dizer que esta ponte é a mãe da Torre Eiffel", considera José Manuel Pavão, presidente da Liga de Amigos da Ponte Maria Pia, criada há 24 anos com o intuito da preservação e reutilização da centenária travessia.
Muitos projetos surgiram desde que a ligação ferroviária passou para a Ponte de S. João, em 1991: da utilização para elétricos históricos, passando pelo aproveitamento para uso pedonal e ciclável, tendo existido mesmo a ideia de desmontar a ponte e colocá-la noutro ponto da cidade. O mais recente partiu da Margem a Margem, SA, e prevê um investimento, totalmente privado, a rondar os oito milhões de euros, prometendo uma ecopista e uma série de equipamentos culturais, ideia que não colheu simpatia por parte das autarquias. "Acho que não tem havido criatividade e a perceção da respeitabilidade histórica e da importância gigante de Eiffel. Não houve tempo nem sorte para as duas autarquias cantarem a mesma cartilha", diz José Manuel Pavão.
Porto e Gaia sem projetos
A IP, responsável pela travessia, explicou ao JN que "efetua um acompanhamento rigoroso e regular ao estado de conservação". Apesar de estar sem exploração há mais de 30 anos, a ponte "tem sido alvo de inspeções principais e de um conjunto de intervenções de manutenção, de forma a assegurar a integridade dos principais elementos".
No entanto, quanto ao seu futuro, a empresa pública informa que "está em vigor um contrato de subconcessão celebrado com o Município do Porto para adaptação e utilização da plataforma do Ramal da Alfândega, entre os quilómetros 0,491 e 3,359, para fins dos modos suaves de mobilidade, turísticos e/ou lazer". E é na sequência desse projeto que está prevista "a análise conjunta pela IP e pelos municípios de Gaia e do Porto da utilização futura da Ponte Maria Pia como via pedonal e ciclável".
Contactadas ambas as autarquias, pouco ou nada é adiantado quanto ao futuro da histórica ponte. A Câmara do Porto diz que "a gestão da Ponte Maria Pia é da IP" e que por isso não tem "nenhuma novidade relativamente a esta matéria" para além das reuniões que foram desenvolvidas "por iniciativa de associações e a título individual, no que diz respeito às soluções". Já a Câmara de Gaia não prestou qualquer esclarecimento.
Detalhes
Parceria Eiffel/Seyrig
Foi construída entre janeiro de 1876 e 4 de novembro de 1877 pela empresa G. Eiffel et Compagnie e projetada por Théophile Seyrig e Gustave Eiffel. Custou na altura 1,2 milhões de francos franceses.
Altura de 62 metros
Recebeu o nome da mulher do rei D. Luís I, Maria Pia de Saboia. Tem um tabuleiro de 354 metros de comprimento e, a partir do nível das águas, está a uma altura de 62 metros.