Localização da estação de alta velocidade em Gaia não gera consenso. Especialistas Paula Teles e Rio Fernandes entendem que bastaria uma paragem no Porto.
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A nova estação do TGV, em Gaia, não gera consenso. Os populares, ouvidos pelo JN, pedem mais informação sobre as duas hipóteses de localização em cima da mesa - Santo Ovídio ou Vilar do Paraíso -, enquanto os especialistas na área dos transportes são contra a existência de uma paragem naquele concelho, tendo em conta que a alta velocidade partirá da estação de Campanhã, no Porto.
Se a estação ficar em Santo Ovídio, terá de ser construída em profundidade, aumentando o percurso em túnel. Caso a opção recaia em Vilar do Paraíso, há a hipótese de a paragem ficar à superfície, embora possa obrigar à expropriação de terrenos e à demolição de casas. O JN ouviu vários populares sobre o tema e, embora as opiniões se dividam, uma das queixas repetidas é a falta de informação disponível para perceber qual será a melhor opção. "Em Santo Ovídio, será necessário abrir um grande buraco e, em Vilar do Paraíso, é um terreno mais amplo. No entanto, eu não tenho conhecimentos técnicos para perceber qual seria a melhor opção. Eu tenho pesquisado por curiosidade, mas a informação é pouca", analisa Augusto Frias, reformado, de 67 anos.
Por outro lado, esta empreitada gera outras preocupações entre a população. "O metro em Santo Ovídio beneficiou muito a zona, mas o TGV não vem beneficiar a população. Uma pessoa comum não vai utilizar este meio de transporte diariamente. Portanto, acho que será só para quem tem dinheiro", acredita Guilherme Braga, ex-professor de artes gráficas, de 67 anos. Ainda assim, pese a desinformação generalizada sobre o tema entre os inquiridos, há quem acredite que Santo Ovídio seria pior para certos negócios, como o dos táxis.
"Já perdemos muitos clientes com a Uber e mesmo com o metro até Vila D"Este. Percebo perfeitamente que as pessoas procurem o mais barato, mas, com o TGV, ainda íamos sair mais prejudicados", defende José Ferreira, taxista de 52 anos.
Vale a pena fazer outra?
E se a localização da futura estação de Gaia está a ser alvo de análise por parte do Governo e da Infraestruturas de Portugal, os especialistas na matéria acreditam que esse não devia ser o ponto central do debate.
Paula Teles, especialista em mobilidade urbana, acredita que não há necessidade de existir uma estação de TGV na margem esquerda do Douro. "Preocupa-me esta vontade de fazer várias estações. Os políticos deviam ouvir mais os técnicos especializados nesta matéria e pensar neste tipo de soluções estrategicamente, como um país", explica.
Para a especialista, a questão não deveria ser se a localização ideal é Santo Ovídio ou Vilar do Paraíso. O necessário seria "fazer um planeamento referente à mobilidade". "É-me indiferente qual das opções é a escolhida. Santo Ovídio era bom para criar uma rede de transportes musculada e tirar carros da rua, mas, do ponto de vista de quem planeia cidades, é igual estar num sítio ou noutro. Quem anda nos transportes públicos em Gaia não quer ir para Madrid, mas sim para o Grande Porto", concretiza ainda.
Já José Rio Fernandes, geógrafo, defende que, na falta de melhor opções, a estação da alta velocidade deveria ficar "o mais próximo possível dos grandes centros". E, neste caso, a localização ideal é o Porto. Campanhã será a escolha mais acertada.
"O objetivo é que fique o mais perto possível do maior número de pessoas. Até porque, ficando em Vilar do Paraíso, implicaria uma deslocação ainda maior, reduzindo a eficiência. Quanto à construção à profundidade, isso não é problema nos túneis dos Alpes ou no Canal da Mancha. Por isso, não deveria pesar na decisão", concluiu o geógrafo.