Entrar e sair de Aveiro sem pagar é um pesadelo, porque o município está rodeado de autoestradas portajadas. Seja pela A17, pela A25 (só o troço Aveiro/Praia da Barra não é pago) ou mesmo A29, no limite com Angeja, Albergaria-a-Velha.
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Sem reais alternativas, há quem tente fugir para estradas secundárias, mas acaba a pagar outro custo: longas filas por vias estreitas que tornam as viagens muito mais morosas. A principal eleita tem sido a antiga EN109 (hoje municipalizada e batizada de Avenida Europa), que está extremamente congestionada.
Em Cacia, localidade densamente povoada que é atravessada por este eixo viário, não faltam queixas e já foram promovidos abaixo-assinados a pedir soluções.
A situação, que há anos penaliza empresas, trabalhadores e até turistas, tem reflexos também na qualidade de vida de quem reside junto às vias secundárias. Os circuitos em regime urbano obrigam a muitas paragens e arranques, logo, levam a maior produção de monóxido de carbono, com custos para a qualidade do ar. Também aumentam o ruído e perigos diversos, já que há zonas estreitas onde é difícil circular a pé.
O piso vai-se degradando. A intensidade de tráfego aumentou quando as ex-scut passaram a ser pagas, com destaque para muitos camiões pesados que se tornaram presença assídua em zonas com grande densidade urbana.
Descontos não chegam
Este mês, entrou em vigor um desconto de 50% no valor da taxa de portagem para alguns lanços das autoestradas ex-scut, que inclui os sublanços A17-Mira/Aveiro Nascente e A25-pirâmides/Albergaria. A proposta, apresentada pelo PSD, foi aprovada pelo Parlamento no âmbito da Lei do Orçamento de Estado 2021.
Os candidatos à liderança da autarquia aveirense lembram que a questão depende do Governo Central e não das câmaras. Agradecem o desconto, mas consideram que não chega. Todos se batem pela isenção, considerando que a situação causa grandes constrangimentos à região e é injusta, pois não há reais alternativas.
A luta tem "muitos anos", mas a região não tem sido "ouvida" pelo Governo, lamenta Fernando Paiva de Castro, presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro - Câmara de Comércio e Indústria, sublinhando que pesa na economia. É uma situação "aberrante", um "abuso" que "penaliza trabalhadores e empresas" que têm de entrar e sair diariamente de Aveiro. "Ao chegar a Lisboa e ao Porto, andamos vários quilómetros sem pagar, mas em Aveiro há uma portagem a dois quilómetros, em linha reta, do centro da cidade", descreve Fernando Paiva de Castro.
O líder dos empresários considera urgente a isenção no concelho e na envolvente, com prioridade para os pórticos junto ao nó do estádio e ao nó de Angeja, ambos na A25, e o pórtico da A17 em S. Bernardo/Oliveirinha, porque "estão dentro da malha urbana da cidade".
Quais as propostas que defende para a situação das portagens em Aveiro?
Ribau Esteves - Candidato do PSD/CDS-PP
"Não está nas mãos da Câmara, mas tenho lutado como presidente da Câmara e da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, apresentando várias propostas.
A Câmara já se dispôs a pagar, até ao limite de 400 mil euros, as passagens únicas no nó do estádio, mas não houve recetividade. Entendemos que os circuitos intramunicípio de Aveiro e NUT III não devem ter cobrança.
O que se passa em Aveiro não se passa em mais nenhuma região".
Manuel Oliveira - Candidato do PS e PAN
"É um encargo com peso para a economia e para as pessoas.
O grupo parlamentar do PS já apresentou anteriormente um projeto de resolução [para abolição das portagens].
A situação tem de se resolver coletivamente. Passa pela discriminação positiva, que leve à isenção para os locais. É um assunto de difícil resolução.
À medida que os contratos vão sendo solucionados com as concessionárias, pode-se introduzir mudanças, como se fez no interior".
Nélson Peralta - Candidato do Bloco de Esquerda
"A Assembleia da República pode decidir. Os votos do BE estão na abolição das portagens. (...)
É um erro do ponto de vista do território que as vias na envolvente de Aveiro sejam portajadas, porque, na prática, são vias urbanas e é uma injustiça.
As pessoas não têm alternativas à utilização de transporte individual porque os transportes públicos em Aveiro são muito poucos. É preciso um programa de incentivo da ferrovia e outros transportes públicos".
Miguel Viegas - Candidato da CDU
"A nossa proposta é isentar totalmente as chamadas ex-scut, na medida em que foram construídas com fundos europeus e estão pagas. (...)
Se houvesse uma boa rede de transportes públicos, que permitisse ligações com as cidades à volta, poderia minorar o problema e permitir evoluir para uma mobilidade mais sustentável, mas essas alternativas não existem.
Falta uma verdadeira mobilidade sustentável, que é uma das prioridades da CDU nestas eleições".