Até ao final do ano, Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, acredita que a região vai, em 2022, ultrapassar o número registado em 2019, com seis milhões de turistas. Entre janeiro e julho, o número de hóspedes já ultrapassou a pré-pandemia.
Corpo do artigo
Luís Pedro Martins acredita que, "com os meses que temos ainda em falta, iremos conseguir que o ano de 2022 seja definitivamente o ano da retoma, a ultrapassar esse ano mágico do turismo que foi 2019, com seis milhões de turistas". O presidente do Turismo do Porto e Norte falava ao JN à margem de uma conferência que decorreu, esta sexta-feira, na reitoria da Universidade do Porto. A iniciativa foi dinamizada pelo professor e geógrafo José Rio Fernandes.
"Entre janeiro e julho, já ultrapassámos o número de hóspedes de 2019 em 1%. Se compararmos só o mês de julho, crescemos 13% em relação a um julho fantástico que foi 2019", apontou o presidente daquela entidade regional. E acrescentou: "Quanto às dormidas, comparando os meses de julho desses dois anos, crescemos 15%. Se formos ao acumulado [dos primeiros seis meses], estamos também à frente de 2019, com 3,2%. O acumulado é sempre menor porque coloca aqui janeiro, fevereiro e março, meses onde não havia ainda, de facto, muitos turistas presentes".
15104465
Mas Luís Pedro Martins destacou um dado que considera ser "muito interessante" no que toca às dormidas de turistas nacionais. "Aqui sim, mesmo o acumulado entre janeiro e julho de 2019, no que diz respeito ao mercado interno, estamos 10% acima e só em julho temos um crescimento de 21%. Estamos, de facto, a bater o recorde de 2019", refere.
Porto "hiperdependente" do turismo
Numa conferência com as "novas fronteiras do turismo urbano" como tema, questões como os limites a impor ao turismo, qual o peso do setor nas cidades e como se resolvem problemas como o da falta de habitação sem matar um setor que também muito contribuiu para a requalificação das cidades foram debatidas por Pedro Chamusca, da Associação Portuguesa de Geógrafos, o professor e geógrafo José Rio Fernandes, o vereador da Economia da Câmara do Porto, Ricardo Valente, e Luís Pedro Martins.
15163820
Com um exemplo limite dado anteriormente por Jesús González, presidente da Associação Geográfica Espanhola e professor na Universidade das Ilhas Baleares, sobre o que se passa em Maiorca, - com cerca de um milhão de habitantes, aquela ilha será, em 2022, um destino que atraiu cerca de 17 milhões de turistas -, o presidente do Turismo do Porto e Norte notou que a região está ainda "distante" de um cenário semelhante. "Temos tempo para planear. Tivemos seis milhões turistas em 21 mil quilómetros quadrados", afirmou.
Aliás, como forma de aliviar a pressão turística, Luís Pedro Martins diz que existe uma estratégia de "distribuição" de estrangeiros numa parceria "muito ativa" com municípios como Gaia, Matosinhos e Maia. "A estratégia é, de facto, ajudar a que os turistas estejam mais tempo na região e percorram melhor a região e dessa forma retirar tanta pressão à Área Metropolitana do Porto".
Já Rio Fernandes, observando um "zonamento" da cidade do ponto de vista social, que "coloca os pobres todos em bairros sociais", afirmou-se "preocupado com a cidade". "Estamos a construir a cidade das zonas. Mesmo do ponto de vista turístico, começa a ser difícil encontrar um hotel de três estrelas", realçou.
"Deve haver ação política que tente aquecer a economia quando está fria, arrefecer quando está quente e limitar os acessos", aconselhou o professor. Um Porto "hiperdependente" do turismo, salientou, "é uma vulnerabilidade brutal".
Turismo "ganhou a importância que outros setores perderam"
Por sua vez, Ricardo Valente, vereador da Economia da Câmara do Porto, considera ser necessário perceber "o contexto do fenómeno do turismo", que "ganhou a importância que outros setores perderam". O autarca referiu que a política económica da Câmara do Porto é a de que a cidade "nunca vai ser de turistas, mas com turistas".
"Hoje temos grandes empresas do setor, no Porto, em edifícios que seriam hotéis", destaca Ricardo Valente, recordando que a estratégia da Câmara, plasmada no regulamento do Alojamento Local (AL) entretanto suspenso, seria a de que, a título de exemplo, "quem constrói um AL, tem de colocar três apartamentos em mercado residencial".
15025572
"A Câmara tem um papel a fazer. Não regulamenta nada", apontou Rio Fernandes, aquecendo o debate, e motivando uma reação de Ricardo Valente, que recordou o regulamento que esteve em vigor por meio ano. Rio Fernandes reformulou: "Há um, que suspendeu. Acho-o muito menos restritivo [comparando com o documento elaborado por Lisboa]".
"Se houver um certo combate ao AL, haverá maior oferta de habitação. Tem que haver uma política de cidade sobre isto", sublinhou. Em contraste, a Rua 31 de janeiro "está completamente vazia". "A Câmara não pode fazer nada?", questionou o professor.
Por sua vez, Ricardo Valente disse que os prédios são propriedade de quem tinha os negócios no rés-do-chão mas que, mesmo que a Autarquia penalize os proprietários de edifícios devolutos com o agravamento do IMI, "não acontece nada porque o Governo diz que, nos centros históricos, o IMI é zero".
Sobre o regulamento para o AL, o vereador aponta o último trimestre deste ano para avançar com a nova proposta, mas já disse que quer fazê-lo depois de alterações à legislação nacional. A Câmara entregou à secretaria de Estado do Turismo e à Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, uma proposta de "clarificação do regime jurídico de exploração dos estabelecimentos de AL", mas ainda está à espera, afirmou Ricardo Valente, ao JN.
"Turismo não regulado fecha a cidade aos portuenses"
Do debate, "saímos com uma certeza", considerou Pedro Chamusca. "O turismo é uma ferramenta de desenvolvimento das cidades. Perdemos muito tempo a discutir o turismo e devíamos discutir a cidade que queremos. Ninguém quer fechar a cidade do Porto. Mas um dos efeitos do turismo não regulado é fechar a cidade aos portuenses", analisou o geógrafo.