Luís Pedro Martins, líder do Turismo do Porto e Norte, percebe questões da habitação, mas diz que há tempo para trabalhar.
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Recusa um cenário de "overtourism" no Porto e garante que a cidade tem duas vantagens: carga hoteleira "dispersa" e o crescimento da oferta turística nos concelhos vizinhos, que ajuda à melhor distribuição de turistas pela região. Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, admite que "gostava de contar com a TAP" para reforçar ligações aéreas, em particular de longa distância, mas a região não pode esperar e foi já criado um grupo de trabalho para melhorar a conectividade. As conclusões serão apresentadas em breve.
Licenciado em Design pela Escola Superior de Artes e Design, em 1995, Luís Pedro Martins foi diretor-executivo da Torre dos Clérigos, no Porto. É presidente de Entidade Regional do Turismo do Porto e Norte desde janeiro de 2019. No ano seguinte, tomou posse como líder da direção da Associação de Turismo do Porto e Norte. Foi eleito com 98% dos votos. Desde essa altura que assume a liderança das duas instituições, que têm a seu cargo a promoção da região nos diferentes mercados.
O turismo regressou e encheu em força o Porto. O que ganham as cidades à volta com tantos turistas?
Não estamos numa situação de "overtourism". Contrariamente a outras cidades, no Porto temos a carga hoteleira dispersa. As cidades vizinhas estão a crescer na sua oferta hoteleira, não só na animação turística e restauração. Em Matosinhos ou Gaia, todos os meses nascem infraestruturas hoteleiras de cinco estrelas, que vão contribuir para a não concentração no Porto. O caminho é trabalhar em rede, com os outros municípios a constituírem-se como alternativas e nós apresentarmos o destino internacionalmente como uma região.
Perante um recorde quase certo do número de turistas neste ano, qual será a estratégia para 2023?
Queremos continuar a trabalhar três questões importantes. Uma é a melhor distribuição de turistas pela região. Às vezes, isso passa por trabalhar melhor a mobilidade, que não depende de nós, mas podemos ajudar a influenciar, como é o caso da linha do Douro, que é também uma reivindicação do turismo. Queremos combater a sazonalidade e aumentar o tempo de permanência dos turistas na região, mas de preferência não no mesmo local.
Como é que as rotas das companhias aéreas low-cost influenciaram o mercado?
No pico de 2022, tivemos 21 companhias aéreas, não só low-cost, a operar e 91 rotas. Entre janeiro e setembro, tivemos cerca de 4,5 milhões de passageiros desembarcados no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Houve uma excelente resposta por parte das companhias estrangeiras. Com exceção da Emirates, que não regressou este ano, todas as outras não só regressaram como aumentaram a operação face a 2019. O grupo Lufthansa passou a ter a sua maior operação no nosso aeroporto. A British Airways mais do que duplicou a oferta de voos de 2019. E este trabalho da British fez com que, pela primeira vez, o mercado do Reino Unido passasse a ter uma expressão muito significativa na região.
Até à data, qual foi o impacto económico?
Só na hotelaria, o Porto e Norte cresceu 29,8%, comparando o mês de julho com julho de 2019. Fechámos esse mês com 91 milhões de euros. Se fizermos as contas desde janeiro, temos já 400 milhões de euros. Se compararmos com 2019, são mais 13,4%, o que é brutal.
Prevê-se algum reforço semelhante com a TAP?
A TAP ainda não repôs os voos e as frequências que tinha em 2019. Isso afetou-nos e conseguimos provar. O Brasil era o terceiro mercado emissor da região e hoje desceu e está em entre o 5.o e o 6.o lugares. Gostávamos muito de contar com a TAP, mas acima de tudo temos de trabalhar e não podemos estar à espera de algo que pode ou não acontecer. Por isso, está criado um grupo de trabalho entre a CCDR-N, o Turismo do Porto e Norte, as câmaras do Porto e da Maia, a Associação Empresarial de Portugal, a Associação Comercial do Porto e o Conselho Regional do Porto, de forma a identificar quais são as rotas e as companhias que nos poderão ajudar a resolver este fator crítico de sucesso para a região como é a conectividade aérea. Esse trabalho está concluído e muito em breve serão apresentadas as conclusões ao ministro Pedro Nuno Santos e será publicado.
O que pode o turismo fazer face à inflação?
Uma guerra na Europa impede-nos de estar otimistas e obriga-nos a estar atentos e preocupados com o que poderá acontecer. Vai afetar-nos em alguns mercados, como já está no alemão, polaco e checo, porque estão muito próximos do conflito. Além de tudo o que advém diretamente da guerra, há um fator interno a destacar: faltam, neste momento, cerca de 50 mil pessoas no setor, a nível nacional. É uma consequência direta da pandemia. As pessoas assustaram-se com o impacto que teve e transitaram para outros que lhes pareceram ser mais seguros. Preocupa-nos também alguma baixa qualificação, que surgiu para colmatar esta falha. É uma questão à qual o Governo, em primeiro lugar, associações como a nossa e empresários têm de estar muito atentos. Já percebemos que teremos de a solucionar com os nossos parceiros, por exemplo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, onde exista mão de obra qualificada ou que possamos qualificar.
Perante o problema de falta de habitação, fala-se na necessidade de conter o fenómeno do alojamento local. Compreende as preocupações?
Compreendo as preocupações e tem de ser-lhes dada a devida atenção. O Porto, e outras cidades do país, têm vantagem de poder trabalhar, com tempo, para que não aconteça o mesmo que noutros destinos nossos concorrentes. Acho que o turismo não deve ser visto como o mau da fita. É, porventura, o setor de atividade que provoca um maior arrastamento positivo. Quando está bem, estão também outros, como o têxtil, loiças, vinhos, etc. E o turismo permitiu que fossem reabilitadas algumas zonas da cidade, artérias mais degradadas e até mesmo abandonadas. E oferece muitos postos de trabalho. Em 2019, eram cerca de 400 mil diretos pelo país.