Construção de nova travessia preocupa moradores do bairro de Massarelos, no Porto. Câmara diz que projeto é da Metro que, por sua vez, espera o arranque da fase de discussão pública.
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Entre olhares e gestos inquietos, Ângela e António recordam uma vida de sacrifício. "Tirámos à boca" para manter o teto no bairro de Massarelos, na zona do Bicalho, no Porto, diz a portuense, de 70 anos, nervosa. É a construção da nova ponte do metro que inquieta o casal. Contavam deixar a casa ao filho e aos netos. Um desejo que temem já não conseguir realizar. "Já viu? Vivermos aqui com este barulho todo?", revolta-se Ângela Pereira.
Além da perturbação inevitável provocada pelos trabalhos de construção da travessia entre o Porto e Gaia, que "vão demorar anos", António alerta para o horário de circulação do metro depois da obra pronta: "é das seis da manhã à uma hora do dia seguinte". Mas Ângela explica: "Não somos contra a ponte. Somos contra o sítio". Também o vizinho do casal António Soares, de 55 anos, nota que, "do ponto de vista estético, é um absurdo fazer-se uma ponte aqui". Por lá, contam os moradores, já foram feitas várias prospeções no terreno.
"terrenos da câmara"
À revolta com o local escolhido, soma-se a indignação com o facto de "ninguém responsável nesta cidade ter tido a coragem de dizer publicamente alguma coisa sobre isto", observa António Pereira, de 72 anos. "É que a casa é nossa, mas o terreno não", aponta Ângela.
De seguida, António explica que as casas foram construídas através do programa SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), após o 25 de Abril: "Formou-se uma associação de moradores e pediu-se um empréstimo através do antigo Instituto Nacional de Habitação. Os terrenos continuam a ser da Câmara, por isso não podemos vender. Passa de herdeiros para herdeiros".
De acordo com o casal, o tabuleiro da ponte passará mesmo por cima da sua casa, no bloco que fica junto à Casa do Gólgota. E a preocupação aumenta porque, afirmam, já ouviram dizer que "o mais fácil era demolir o bloco e realojar as pessoas". "Mas se formos para uma casa da Câmara não vamos ter as condições que temos aqui e não deixamos nada a ninguém. E o dinheirão que eu já gastei?", insurge-se Ângela, deixando claro que "uma indemnização nunca seria suficiente para comprar uma casa".
"Os terrenos são da cidade. Acho que [a Câmara do Porto] tinha alguma posição a defender", atira António.
Às questões colocadas pelo JN, o Município respondeu que "a nova ponte do metro é um projeto da Metro do Porto, empresa tutelada pelo Estado Central, pelo que é a este nível que o processo decorre".
Por sua vez, a Metro do Porto diz estar a aguardar "o arranque da fase de discussão pública do Estudo de Impacto Ambiental, processo que a Agência Portuguesa do Ambiente promove e lidera, nos termos da lei". "Nessa fase levaremos amplamente ao conhecimento público todo projeto para a Linha Rubi, incluindo a nova ponte, os impactos da sua construção e as medidas de mitigação dos mesmos", acrescentou a Metro.
"Enquanto há fé, há esperança", acalma-se Ângela. Diz que só depois de a obra começar é que já não se pode fazer nada.
Edgar Cardoso
O projeto que venceu o concurso público é do gabinete de Edgar Cardoso, engenheiro da Ponte da Arrábida. Custa 50,5 milhões de euros. Propõe uma estrutura com efeito de arco, em betão.
Segunda proposta
Em segundo lugar ficou o projeto da empresa Coba - Consultores de Engenharia e Ambiente, que propôs um arco intermédio que sobrevoa o tabuleiro. Custaria 62,8 milhões de euros.
Terceiro lugar
A Betar Consultores ficou em terceiro lugar: uma ponte com pilares inclinados assimétricos na margem, por 69,2 milhões de euros.